Entre as redes de apoio mútuo do Brasil, Afrodonas se destaca pelo estímulo ao networking, empoderamento e premiação de afroempreendedoras.
A construção de redes de apoio tem sido uma estratégia cada vez mais presente entre o público feminino empreendedor no Brasil. No caso das mulheres negras, essas conexões são fundamentais não apenas para o fortalecimento de seus negócios, mas também para superar barreiras estruturais que dificultam seu crescimento no mercado.
Desigualdade salarial, subutilização da força de trabalho, racismo e acesso limitado a crédito seguem marcando a realidade de grande parte das empreendedoras negras do país — grupo que representa quase 47 milhões de mulheres pardas, que, se somadas à mulheres pretas, totalizam mais de 57 milhões de mulheres negras, segundo o Informe MIR.
Em 2023, a remuneração média das mulheres negras foi de apenas 48% do que ganhavam os homens brancos, segundo levantamento do Ibre/FGV. No mesmo período, 41% delas estavam subutilizadas no mercado de trabalho, enquanto a taxa entre homens brancos era de 18%, de acordo com o Ceert. No universo do empreendedorismo, os dados do SEBRAE mostram que 92% dessas mulheres atuam sozinhas, sem funcionários, o que evidencia a dificuldade de acesso a investimento, formação e suporte técnico.
Nesse cenário, redes de apoio e colaboração entre empreendedoras têm se mostrado fundamentais. Em Salvador, por exemplo, o “Afrodonas” se consolida como uma rede ativa de mulheres negras para o fortalecimento do afroempreendedorismo, economia local e networking. O evento destaca conquistas de empreendedoras, reconhece lideranças femininas e premia mulheres com o troféu “Personalidade Negra Empreendedora” – tudo isso em evento de gala com direito a coquetel de apresentação.
Idealizado pela fundadora da Afrocentrados Conceito, Cynthia Paixão, o Afrodonas tornou-se um marco da capital baiana, juntamente ao Ayô Circuito Verão Afro. A empresária é a mente por trás dos projetos: sua loja colaborativa fomenta o desenvolvimento da comunidade local, apoiando mais de 100 empreendedoras negras, com mentorias de empreendimento, marketing digital e design de produtos – sob a missão de impulsionar mulheres pretas nos mais diversos setores.
Cynthia acredita que o Afrodonas é uma ponte para empreendedoras pretas construírem seus caminhos com base em trocas de experiências, suporte mútuo e estratégias coletivas para seguir avançando. O movimento proposto pela empresária é um dos pilares de apoio espalhados pelo país para as cerca de 47% empreendedoras negras que lutam para empreender no Brasil, conforme dados do SEBRAE.
“Essas mulheres necessitam de uma rede de apoio. Como prosperar nos negócios já que o acesso à crédito mais improvável é o do afroempreendedor? Mesmo nós, que movimentamos 24% do PIB do país? É a partir desse cenário que nasce a Afrocentrados Conceito, o Afrodonas ou o Ayô Circuito Verão. É de entender o papel revolucionário da conexão afro no empreendedorismo, sobretudo quando falamos de mulheres. O Afrodonas surgiu, portanto, para ser esse ponto de apoio, promovendo encontros e fortalecendo coletivamente as mulheres negras”, afirma Cynthia, responsável pelo evento.
Em 2024, o Afrodonas preencheu a falta de conexões, premiações e valorização de mulheres pretas na intitulada capital mais negra fora da África. Com valores de empoderamento, diversidade, excelência e inovação, a iniciativa vem fortalecendo cada vez mais a cena de mulheres negras no mundo dos negócios, criando uma plataforma de visibilidade e reconhecimento. Meses após sua realização, o Afrodonas segue como referência quando o assunto é promover o empreendedorismo negro feminino.
“Não estamos mais sozinhas. Meu objetivo é que essas mulheres negras que se encontram empreendendo sozinhas venham até nós para que possamos ajudá-la. Da próxima vez, será ela a ajudar. E assim vamos construindo essa rede de apoio mútuo. Umas ajudando as outras, rompendo barreiras de investimento, capacitação, suporte técnico ou qualquer outra dificuldade", conclui.
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