Por Catarina Scortecci | Folhapress
Foto: Ricardo Stuckert / PR
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta sexta-feira (21) que o governo federal vai financiar áreas em estados brasileiros que produzem arroz, para o país não ficar dependente "apenas de uma região" —em referência às perdas registradas no Rio Grande do Sul após as enchentes.
"Vamos financiar, vamos oferecer o direito de plantar, e a gente vai dar uma garantia de preço para que as pessoas não tenham prejuízo", disse durante entrevista à Rádio Meio FM, em Teresina.
Ao falar sobre o leilão de importação de arroz, Lula afirmou que ele acabou frustrado por conta de uma "falcatrua de uma empresa" e voltou a defender medidas para baixar o preço do produto.
"Eu tomei uma atitude drástica dias atrás, que foi a seguinte: o cara me mostrou no celular dele um pacote de arroz de cinco quilos a R$ 36. Outro me mostrou um pacote a R$ 33. Não é possível. O povo não pode pagar isso, está caro. Aí tomei a decisão de importar 1 milhão de toneladas. E depois tivemos a anulação do leilão, porque houve uma falcatrua numa empresa", afirmou.
"Mas por que eu vou importar? Porque o arroz tem que chegar na mesa do povo no mínimo a R$ 20, um pacote de cinco quilos. Não dá para ser um preço exorbitante", acrescentou.
No dia 11 de maio, o governo federal anulou o leilão para a importação de arroz após indícios de falta de capacidade técnica e irregularidades.
O pregão virou alvo de críticas, por exemplo, por ter entre os vencedores uma loja de leites e um empresário que já confessou propina, como mostrou a Folha de S.Paulo. Também surgiram suspeitas de favorecimento que respingaram no secretário de Política Agrícola, Neri Geller.
A saída do secretário aconteceu junto com a anulação do leilão, no que foi interpretado como uma tentativa de vincular o Geller ao fracasso da medida.
Reportagem do site especializado The Agribiz mostrou que a Bolsa de Mercadorias de Mato Grosso (BMT) e a Foco Corretora de Grãos, que foram criadas no ano passado pelo ex-assessor do então deputado federal Neri Geller, Robson Luiz de Almeida França, intermediaram a venda de quase metade do arroz importado que foi vendido no leilão da Conab.
O filho de Neri Geller, Marcelo Piccini Geller, é sócio em outro empreendimento de Robson Luiz de Almeida França.
Em entrevista à Folha de S.Paulo, o agora ex-secretário disse que o leilão foi um erro político —mas não dele. Em sua visão, as denúncias tomaram uma grande proporção justamente para atingi-lo.
Geller afirmou que não teve responsabilidade sobre o leilão, porque não atuou em sua elaboração. Ao contrário do que alegou o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, ele afirma que não pediu demissão do cargo e que, na verdade, seu ex-superior não lhe atendeu quando tentou corrigir a informação sobre a saída da pasta.
O ex-assessor confirmou que trabalhou com Geller em 2020, mas apontou que não tinha mais proximidade com o ex-chefe. França afirmou que a criação da BMT e da Foco Corretora foi legal, e negou ser amigo do ex-secretário.
Integrantes do governo que participaram da elaboração do certame defenderam que a medida estava dentro da legalidade e reafirmaram que o governo não chegou a pagar pelo arroz (o que só ocorre quando o produto chega aos armazéns da companhia).
Além disso, há uma avaliação de que o tema foi politizado. A oposição, muito ligada ao agronegócio, sobretudo no sul do país, foi crítica ferrenha da realização da compra de arroz estrangeiro. E, nas redes sociais e no Congresso, o assunto foi muito explorado.
Em evento no Rio de Janeiro no dia seguinte ao cancelamento do leilão, Fávaro afirmou que o governo anulou o certame por não ter "compromisso com o erro" e disse que não há "caça às bruxas" nem "julgamento precipitado" na demissão de Geller.
O ministro também prometeu que um outro certame será realizado por meio da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento).
A expectativa mais conservadora de integrantes do governo é de que o próximo certame seja realizado em, no máximo, 60 dias.
A Conab tem costume de realizar leilões nacionais, mas de importação é o primeiro desde os anos 1980. Assim, agora técnicos vão fazer revisão de normas e procedimentos para melhor adequá-lo.
Uma das novidades deve ser a exigência da autorização de operação de comércio exterior, o sistema Radar, da Receita Federal. É um documento que habilita empresas com condições de operar no mercado internacional.
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