Dra. Andrea Ladislau / Psicanalista
Em pleno século XXI nos deparamos ainda com situações, no mínimo, constrangedoras em relação à discriminação feminina. Um exemplo, foi o relato chocante em redes sociais, da capixaba que denunciou a discriminação em seu processo de busca por uma vaga de emprego.
O fato de ser mãe, segundo o recrutador, era um impeditivo para a contratação, verbalizado pela frase: “sempre é difícil contratar alguém com filhos”. Questionando inclusive, “a rotina de tantos compromissos de um desempregado”.
Situação que, após a exposição pública pela vítima, causou muita indignação e constatou que, ainda existe o preconceito e discriminação velados em relação à maternidade, escolha do candidato ideal para a vaga e ao desempenho da mulher no mercado de trabalho.
O universo feminino sempre vai suscitar uma série de reflexões. Mas quero me atentar a um tipo de pressão social psicológica muito comum e falsamente inocente, que cobra e impõe regras em cada etapa da vida das mulheres. Proponho uma reflexão sobre os impactos psicológicos que essa pressão acarreta, especialmente, quando confrontamos as expectativas da maternidade com a realidade que ela impõe.
A sociedade acaba julgando essas mulheres, independente, de suas decisões e podando-as conforme essas mesmas decisões. Onde está escrito que a mulher com filhos, é menos produtiva que a mulher que não possui filhos? Onde está escrito que ter o momento de cuidar da família, verbalizado inclusive como resposta ao insensível recrutador, é algo errado ou inaceitável? Ou seja, a realidade mostra que, para ser mãe a mulher enfrenta ainda em tempos atuais, insegurança, retalhações e desmotivações por pressões alheias.
O desejo por uma realização profissional, mesmo em um universo que cultua o patriarcado, ainda é um grande desafio para essa mulher que busca seu lugar ao sol, com muito respeito e os mesmos direitos. No entanto, assim como esse episódio triste, muitas histórias escondidas embaixo do tapete, apontam a falta de respeito, empatia e generosidade para acolher a mulher na dinâmica diária de ser mãe, profissional e mulher.
Dores que, muitas vezes, levam a desenvolver sofrimento psíquico, como: ansiedade, depressão, pânico, transtornos alimentares, entre outros transtornos, decorrentes da rejeição e complexo de inferioridade estimulados por situações constrangedoras como essa denunciada pela candidata em questão.
Na verdade, o que vemos é que a pressão que as mulheres enfrentam não tem nada a ver apenas com a cobrança em relação a entrega profissional delas, mas sim passa por um questionamento social constante e massacrante, que não leva em conta seus desejos, suas vontades e sua capacidade de se virar em múltiplas tarefas, podendo ser mãe, esposa, filha, trabalhadora exemplar e mulher ao mesmo tempo.
Como consequência, vemos a autoestima ferida e a aniquilação do querer desta mulher. Arrisco até a dizer, obrigando-a ignorar e não aceitar o chamado maternal, que é inerente a toda mulher. Desrespeitando a lei da vida que deixa claro que esse chamado faz parte da essência de cada alma feminina.
Portanto, o respeito pela maternidade, pela capacitação e acolhimento de cada mulher, é urgente. Nossa bagagem de vida, nossos sonhos, desejos, medos e angústias, falam por nós e ela pode ser mãe e ser produtiva ao mesmo tempo. Quem disse que não? Que os conceitos sociais e corporativos sejam revistos e que o acolhimento e respeito seja peça número um de todo e qualquer processo seletivo, independente de raça ou gênero.
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