De um lado, supermercados farmácias e outros serviços essenciais autorizados a funcionar durante todo o dia – ainda que com horário reduzido. Do outro, fronteiras da cidade fechadas e caminhões carregados de mercadorias impedidos de entrar. Os cenários opostos são a realidade de uma mesma cidade. Em Muritiba, na região do Recôncavo, uma barreira instalada pela prefeitura desde o último domingo tem impedido a entrada de não moradores, inclusive de pessoas que levam mercadorias essenciais, como remédios e alimentos perecíveis, o que deixa preocupados comerciantes e cidadãos.
“Foi decretada a barreira, mas a cidade não foi fechada. Assim, as mercadorias não podem entrar. Não adianta deixar a cidade aberta e não ter o que vender. Tem mercadoria que você não pode fazer estoque, tem que abastecer toda semana, verdura, carne… Está sendo muito complicado trabalhar, para a gente atender o cliente”, conta o comerciário Antônio Sérgio Santos, gerente de um mercado do município.
A barreira instalada nos limites de Muritiba permite apenas o acesso de moradores e abre exceção para profissionais da área de saúde, veículos oficiais e ambulâncias, e funcionários públicos no exercício da função, além de pessoas que precisem de atendimento médico.
Procurada pelo CORREIO, a prefeitura do município informou que esta é a primeira vez desde o início da pandemia do novo coronavírus que a cidade passa por medidas mais duras. Isto porque, os municípios vizinhos, Cachoeira e São Félix, tiveram aumento expressivo no número de casos e foi necessário decretar medidas mais severas de isolamento. “Muritiba tem sido exemplo e modelo no combate ao coronavírus. Somos a cidade do Recôncavo com o menor número de casos ativos, um para cada mil habitantes. Cidades muito próximas estão com a situação mais delicada, ficamos com receio de que isso gerasse um fluxo muito grande de pessoas vindo para cá”, declarou a prefeitura através de sua assessoria.
Sobre o risco de desabastecimento na cidade, a administração municipal afirma que o tempo de duração do fechamento não será suficiente para causar falta de mercadorias ou alta de preços. As divisas seguem fechadas acompanhando os decretos das cidades vizinhas que estão com medidas mais restritivas até o domingo (2/8).
“Muritiba é uma cidade pequena e não tem como já estar desabastecida. Todos os comerciantes podem ir na barreira buscar suas mercadorias, e é o que têm acontecido. Essa medida não é algo para durar para sempre, que vai sufocar ou deixar o estoque da cidade prejudicado. É emergencial e que acompanha as medidas de lockdown das cidades vizinhas”, explicou o coordenador de comunicação da prefeitura, Rodrigo Valverde.
Falta estoque
Questionado sobre a possibilidade do fechamento perdurar caso os decretos dos municipios próximos sejam prorrogados, Valverde afirmou que ainda não há nada decidido.
Para os comerciantes, a opção de ir retirar as mercadorias na barreira de entrada não é uma alternativa viável. “Você pode ir na barreira buscar, mas isso é muito complicado, é uma infraestrutura que a gente em cidade de interior não tem. Pra toda hora ficar mandando gente na barreira para buscar mercadoria, é um transtorno muito grande. Tivemos que ir todo dia na barreira para não deixar faltar mercadoria para o cliente, e isso significa deslocar três, quatro, funcionários cada vez que vamos lá”, conta António Sérgio.
A necessidade de se deslocar para retirar a mercadoria está ainda, segundo os comerciantes, colocando em risco os funcionários. “A entrada está bloqueada inclusive para produtos essenciais, remédios, alimentos, produtos perecíveis que não dá para estocar. É um absurdo. Todo caminhão que chega acaba ficando lá parado e a gente tem que dar um jeito de ir buscar. Isso está, inclusive, gerando aglomeração, porque vai juntando um monte de carro lá, muita gente buscando suas mercadorias.
O efeito acaba sendo contrário”, contou um outro gerente de supermercado, que pediu para não ser identificado na reportagem.
Quem precisa comprar as mercadorias, no entanto, acredita que o tempo da medida faz com que o bloqueio não represente qualquer impacto no cotidiano. “Aqui é uma cidade pequena, mesmo sem barreira não temos muito movimento. Então, não falta nada para a gente, ainda mais sendo só por uma semana como eles estão divulgando”, acredita o professor de educação física Igor Feitas, morador de Muritiba.
“As barreiras são uma medida importante para a cidade. O trabalho mais importante é o de conscientizar as pessoas sobre a necessidade de não sair, mas nesse momento, as barreiras são necessárias principalmente com uma comunicação com as cidades vizinhas como a gente vê que tá acontecendo”, acrescenta a fonoaudióloga Josane Albergaria, também moradora.
Freitas, no entanto, entende que a medida afeta diretamente os comerciantes e apoia uma solução alternativa. “A barreira é uma medida corretíssima. É claro que poderia ter um esquema diferente para não prejudicar o comércio. Mas o controle é necessário”. *Correio
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