O uso de canabinoides será tema de curso de aperfeiçoamento em Medicina. Isso ocorre cinco anos depois de a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) liberar a importação da substância - um componente da maconha - para uso em pacientes com doenças específicas e após mais de 800 profissionais passarem a prescrever o tratamento no País.
A Universidade Estácio promoverá um curso voltado para profissionais interessados em saber mais sobre o componente, quando e como prescrevê-lo. As poucas vagas foram esgotadas rapidamente e uma fila de espera já se formou para mais módulos. "O curso trará reflexão sobre algo que é novo, mas que já vem mostrando benefícios", afirma o gestor nacional de Medicina da universidade, Sílvio Pessanha Neto. Informa o Estadão
As aulas serão dadas por profissionais que, além do conhecimento teórico, têm experiência de prescrição. Embora pesquisas científicas sobre o uso de canabinoides não sejam fartas, e haja ainda resistência de muitos profissionais, Pessanha Neto avalia que o curso vem em boa hora. "A gente não pode deixar como antigamente. Primeiro ir para o livro para depois chegar às mãos dos alunos."
Entre os que avaliam que o produto deva ter o uso limitado está o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Durante a discussão na Anvisa para facilitar o registro de novas drogas que levam em sua composição a substância e para liberar o plantio de maconha para fins de pesquisa e para a fabricação de medicamentos, o ministro afirmou que o canabidiol não era uma "panaceia" e o uso era restrito.
O curso terá como ponto de partida a discussão de casos de pacientes tratados com o canabidiol para controle de problemas ligados a ortopedia, oncologia e neurologia. "Há uma carência de informações sobre o assunto", avalia Pessanha Neto. "O objetivo não é prescrever ou não prescrever. A ideia é trazer para a universidade discussões para que colegas possam interagir e, a partir daí, avaliar a prática clínica."
A neurologista Christina Funatsu, de São Paulo, foi uma das que se inscreveram no curso, com carga horária de oito horas. Com 25 anos de experiência profissional, Christina passou a indicar o uso de canabidiol há pouco mais de um ano, para um pequeno número de pacientes que não apresentavam respostas ao tratamento tradicional. No início, as tentativas eram tímidas: dosagens baixas, com avaliação constante.
A neurologista diz indicar o canabidiol para pessoas que já não respondem à medicação para dores crônicas ou para pacientes com crises convulsivas de difícil controle. Ao longo de um ano, ela calcula ter prescrito canabidiol para quase uma centena de pessoas. "É um divisor de águas", diz, considerando que, em termos gerais, há uma melhora importante nos pacientes. Em alguns casos, a evolução foi prejudicada pela falta de acesso. "Não são todos que conseguem arcar com os custos por um longo período."
Rio
A expectativa é de que o curso seja dado também para profissionais do Rio. O aperfeiçoamento foi feito com a consultoria da GreenCare, especializada em medicamentos com base de canabinoides. Martim Mattos, presidente da empresa, avalia que um eventual aumento de profissionais prescrevendo o canabidiol em nada interferiria na discussão que ocorre na Anvisa. "Esse é um aprofundamento científico, não tem nada de político." Estadão
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