por Fernando Duarte / BN
Há uma discussão em curso sobre a unificação das eleições no Brasil. A ideia não é nova e volta e meia aparece como bandeira de um grupo de políticos que, mesmo que defenda o tema, não parece afeito a reduzir os próprios mandatos para chegar a um entendimento. O foco é, quase sempre, ampliar a permanência nos cargos por mais dois anos para só aí chegar a uma eleição única. Como diz o antigo ditado: farinha pouca, meu pirão primeiro.
A ideia defendida nesta segunda-feira (3), durante a 2ª Marcha de Prefeitos, foi exatamente a extensão dos mandatos dos atuais prefeitos para 2022, quando o Brasil volta às urnas para próxima a eleição presidencial. Em 2016, quando chegou a haver um ensaio de reforma política, a defesa era a mesma, só que estenderia o mandato dos governadores – e por tabela de deputados estaduais, federais e senadores. Como Michel Temer chegou ao poder de maneira indireta naquele ano, ganharia dois anos de “bônus” para ter um mandato completo no Palácio do Planalto. Por que não deu certo?
Mesmo que todas as justificativas para a unificação das eleições sejam válidas, falta vontade política para colocar em prática. Há ainda a questão da falta de maturidade da população para efetivamente discutir e pressionar para que haja apenas um pleito para eleger de vereador a presidente da República. A “festa da democracia” a cada dois anos embriaga e passa a falsa impressão que o povo participa das decisões no país, uma das mentiras muito bem contadas ao longo dos anos.
Agora é certo que a principal razão a ser levada em consideração para que haja a eleição única para todos os cargos é o custo do pleito – não apenas a execução da apuração dos sufrágios, mas todo o desgaste e o planejamento dos próprios políticos para participar das eleições. Ao fechar das urnas, nem bem o “corpo do derrotado esfriou”, já se começa a discutir quem são os atores a protagonizar as disputas em dois anos. É um eterno processo de retroalimentação que não apenas mantém vivas as mesmas figuras, como produz os trampolins entre os pleitos.
Quantos vereadores se catapultaram para deputados dois anos após a eleição? Quantos prefeitos deixam o posto para tentarem o governo no mesmo espaço de tempo? São inúmeros os exemplos que confirmam que participar de uma eleição para um político passa longe de ser o altruísmo de se dedicar à nação. Não que esperemos gestos de bondades gratuitas deles. Porém precisamos ser realistas de que a política no Brasil é muito mais uma atividade profissional do que fruto da preocupação com o bem-estar daqueles representados. É errado? Talvez. Mas não é um caso para se discutir agora.
Uma coisa é inegável: a unificação das eleições caminha para entrar na pauta dos políticos. Resta saber se haverá engajamento popular para que o tema seja discutido de maneira madura e sem beneficiar explicitamente aqueles que já detêm poder. Cá entre nós, muitos deles já nem deveriam estar circulando por aí...
Este texto integra o comentário desta terça-feira (4) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para as rádios Excelsior, Irecê Líder FM, Clube FM e RB FM.
Nenhum comentário:
Postar um comentário