por Cláudia Cardozo
Em tempos em que o pedido de execução provisória de uma pena causa discordância no meio jurídico, a possibilidade de prisão dos condenados da banda New Hit, após confirmação da pena em segunda instância, é vista como justiça e um indicativo de que não haverá impunidade para casos de violência contra mulher. A presidente e fundadora da ONG #TamoJuntas, advogada Laína Crisóstomo, ao Bahia Notícias, diz que o pedido de prisão dos integrantes da banda (leia mais aqui) já poderia constar no acórdão que manteve a condenação. A 2ª Turma da 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) reduziu para dez anos de prisão a condenação de Alan Aragão Trigueiros, Edson Bomfim Berhends Santos, Eduardo Martins Daltro de Castro Sobrinho, Guilherme Augusto Campos Silva, Jhon Ghendow de Souza Silva, Michel Melo de Almeida, Weslen Danilo Borges Lopes e Willian Ricardo de Farias. “A sensação é que foi feita justiça - não da forma que a gente queria - para que eles aprendam, outros aprendam que, se fizer igual, não sairão impunes. Mas ainda vai ter recurso, tanto da defesa contra condenação, quanto do Ministério Público contra absolvição. Existe um problema real que é a efetividade da Justiça para os crimes de violência contra a mulher”, diz. “Eu fico pensando na morosidade de se fazer justiça, de como essas meninas ainda estão presas e eles permanecem soltos. Eles tocaram em outras bandas, tocaram em outros grupos, e seguiram as vida deles, sabe?”, reflete. O vocalista da New Hit, Dudu, e outro integrante do grupo, por exemplo, se tornaram backing vocal e dançarino na banda de Igor Kannário. Outro integrante integra o balé do Psirico. O crime, que teve grande repercussão no país, aconteceu em agosto de 2012 (entenda aqui). Laína acredita que os réus deveriam ter permanecido presos, independente do julgamento da apelação de segundo grau. “Não é possível que o clamor popular e que a repercussão pública que existiu neste crime não fosse motivo para manter eles presos, independente do julgamento da apelação de segundo grau. Se fossem jovens negros, jovens pobres, iriam ficar presos, independente do recurso. Esses rapazes têm grana, pagaram advogados caros, os advogados que fizeram a defesa deles não são baratos, são conhecidos por fazer júri, de pegarem casos de grande repercussão, com honorários altos. Eles têm dinheiro, têm influência e não são menininhos quaisquer. São de classe média alta, ganharam muito dinheiro promovendo essa prática, com músicas da cultura de estupro, da violência contra mulher, entre outros. O cumprimento da efetividade da Justiça não existe em crimes de violência contra mulher, e não existe justiça para rico e branco no Brasil”, desabafa. Apesar de não acompanhar as vítimas de perto desde o ocorrido, a advogada diz que elas, até hoje, vivem o trauma da violência que sofreram. “Até hoje, elas é que se escondem. Elas que tiveram que mudar de casa, mudar de vida, elas ficaram um tempo no programa de proteção à vítima, mudaram de identidade para resguardar a vida delas. Imagina o quão perverso isso é. Apesar deles poderem ser presos agora, nós temos a sensação de que o carimbo de vítima, de estuprada, será delas, e que eles não terão nenhum tipo de carimbo de estuprador”, pontua. A presidente da #TamoJuntas acompanhou de perto o julgamento do recurso no TJ-BA e manifestou indignação no que ouviu. “Teve muita gente dizendo que eles não eram culpados, que elas destruíram a carreira deles, de que elas queriam holofotes, que era sexo consensual, eram essas as teses”, afirma, complementado que um deles foi defendido por uma mulher, que se diz advogada feminista. “O Dudu foi um estuprador perverso. No trio, uma das vítimas disse a Dudu: 'Eu te amo', e ele a respondeu: 'eu também te amo', e logo depois, ele estuprou essa menina”.
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