por Fernando Duarte
Das coincidências da vida brasileira. Quase 60 anos depois, um presidente brasileiro está na China em meio a uma crise política. Em agosto 1961, quando Jânio Quadros renunciou à presidência, o vice João Goulart estava em missão oficial em território chinês a pedido do “Varre, varre, vassourinha”. Naquele momento, Quadros tinha a expectativa de ser reconduzido ao posto pelo povo. Ledo engano. Além de não conseguir retornar ao posto, Jânio ainda viu Jango perder o poder para um “primeiro-ministro” e, três anos depois, o Brasil foi mergulhado nos sombrios tempos da ditadura militar. Agora, em 2017, o presidente Michel Temer também está na China. Embarcou no final do mês de agosto. Até maio do ano passado, era um vice decorativo. Ascendeu ao Palácio do Planalto depois do impeachment de Dilma Rousseff – uma versão melhorada de Jânio Quadros. Desde a queda da petista, o Brasil vive um clima de ebulição política. Temer, fraco nas urnas, manteve índices de aprovação abaixo de qualquer limite aceitável. O peemedebista, um clientelista do Congresso Nacional, costurou uma frágil governabilidade, com base no toma lá, dá cá. Em maio, foi atingido em cheio pela divulgação de um áudio em que conversava sobre situações pouco adequadas com o dono do Grupo JBS, Joesley Batista. Carregado por uma tropa de choque fiel ao PMDB desde os tempos em que Eduardo Cunha era todo poderoso em Brasília – hoje um preso em Curitiba -, Temer sobreviveu a uma denúncia feita pela Procuradoria-Geral da República. Foi salvo na Câmara dos Deputados, que não autorizou o prosseguimento da investigação. Pouco mais de um mês depois, está prestes a ser denunciado pela segunda vez. O presidente sabe, por mais de um interlocutor, que dificilmente resistiria a uma segunda flecha do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. O próprio presidente interino, Rodrigo Maia (DEM-RJ), sinalizou a dificuldade em conter a “base aliada” para salvar, mais uma vez, o pescoço. Temer tanto acredita que, segundo o noticiário, estuda antecipar o retorno da China para estar em solo brasileiro quando Janot ingressar com a denúncia no Supremo Tribunal Federal. Uma tentativa de evitar que a história se repita. Com João Goulart, o presidente provavelmente aprendeu que ir para a China no meio de uma crise política pode não ser uma boa ideia. Este trecho integra o comentário desta segunda-feira (4) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para as rádios Irecê Líder FM e Clube FM. BN
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