Rafael Braga: mantida prisão do catador de papel
O Pinho Sol continua criminalizado. Rafael Braga, o jovem negro preso durante as manifestações de 2013, também conhecido como "bucha de canhão", permanecerá preso. Nesta terça-feira (8) o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro decidiu manter Rafael na prisão numa decisão por 2 votos a 1. Assim, o pedido impetrado pela defesa em favor do catador de papel e lata foi rejeitado.
"É difícil dizer algo nesse momento. Ele está abalado, está há 4 anos preso e está precisando se cuidar. A luta continua. A apelação é a parte mais importante do processo", disse uma ativista que protestava na porta do Tribunal de Justiça pela libertação de Rafael.
Rafael Braga Vieira foi preso em 20 de junho de 2013 - e é o único entre mais de um milhão de pessoas que saíram às ruas para protestar em um movimento que repercutiu a onda de protestos que gerou o golpe contra Dilma Rousseff.
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Segundo revelou sua defesa, e que já foi dito e retido pela mídia independente, Rafael coletava materiais reciclavel na região central do Rio de Janeiro. Parou em uma loja abandonada, que lhe servia de casa. Encontrou duas garrafas, uma de água sanitária e outra de desinfetante Pinho Sol. Guardou os produtos para si. No mesmo momento, foi abordado por policiais de uma delegacia próxima que acompanhavam o protesto na avenida Presidente Vargas, considerado um dos mais violentos do período. Em uma leitura rápida, os policiais entenderam que o morador de rua, preto e pobre participava das manifestações. As garrafas em sua mão seriam ferramentas para a fabricação do "coquetel molotov", uma bomba incendiária de fabricação caseira.
Em 2015, Braga conseguiu a progressão para o semi-aberto. Novamente com emprego fixo e comprovado, o jovem deixava o presídio e vai para a prisão domiciliar.
Em 12 de janeiro de 2016, porém, foi detido por policiais na comunidade em que morava, na Penha. A polícia disse ter encontrado com ele 0,6g de maconha e 9g de cocaína. Mesmo diante da quantidade ínfima acabou preso por "tráfico de drogas". Mas Rafael afirmou o tempo todo que o flagrante foi forjado.
É importante lembrar, neste particular, o caso do filho de uma desembargadora de Mato Grosso que, preso com 129 quilos de maconha e munição, foi posto para tratamento em clínica especializada.
A defesa
Os advogados de Rafael afirmaram que os policiais fizeram o procedimento 'padrão'. "Levaram para um canto e bateram nele. Depois, levaram para delegacia e imputaram a ele a porte de determinada quantidade de drogas: maconha, cocaína e o 'foguete'. É o que a gente chama aqui no rio de 'kit traficante'. Quando você quer forjar um flagrante em alguém sobre tráfico, você tem que colocar duas drogas, para indicar diversidade. Se a pessoa tá com uma droga só é usuário. E o foguete é pra dizer que o cara é associado, é aquele que avisa quando a polícia chega e etc".
Em abril de 2017, Rafael Braga foi condenado a 11 anos de prisão por tráfico de drogas e associação ao tráfico. E é nesse contexto que a defesa fez o pedido de Habeas Corpus.
*Rafael virou símbolo das manifestações que dirigentes querem ver criminalizadas. Quanto mais pobre, mais negro, mais desprotegido socialmente maior será o crime a lhe imputar. http://www.conexaojornalismo.com.br
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