Marcello De Vico e Vanderlei Lima*Do UOL, em Santos e São Paulo
O ano era 2006. Revelado pelo Fluminense e jogando pelo time carioca, Lenny surgia como uma grande promessa do futebol brasileiro. Um gol de placa contra o Cruzeiro pela Copa do Brasil (veja vídeo acima) deixaria o jovem atacante – então com 18 anos – ainda mais em evidência. A carreira seguiu, mas a expectativa criada no futebol de Lenny jamais se concretizou. Hoje, 11 anos depois, com 29 anos, o próprio atacante já admite: é um ex-jogador de futebol.
Em conversa bastante descontraída e sincera com o UOL Esporte, ele cita os motivos para a precoce aposentadoria dos gramados. Um deles até polêmico: não suportaria voltar a atuar ao lado de companheiros ruins, que 'não pensam'.
Ricardo Nogueira/Folhapress
"Voltar a jogar com gente ruim seria muito complicado, eu me conheço, eu tenho a minha personalidade muito forte. Fora de campo é uma coisa, todo mundo é gente boa, mas dentro de campo é diferente, falta qualidade técnica e inteligência, porque para você jogar bola você precisa de inteligência... Você pode não saber fazer uma conta, mas tem gente que é inteligente pra jogar futebol, eu digo inteligência futebolística, o ponto futuro, posicionamento, de entender aonde você tem que tocar a bola, aonde tem que se posicionar", diz o jogador, que reforça ainda mais a sua explicação.
"O meu físico é igual ao de um jogador normal, mas se eu voltar, por exemplo, não vou jogar num clube grande, eu teria que voltar num clube pequeno e ter que lidar com gente ruim, isso é horrível. Jogar com gente ruim é horrível, eles não pensam. Eu já tive uma experiência disso e, para quem já jogou em clube grande, jogar em clube pequeno é muito complicado. São jogadores ruins que não pensam, não jogam com profundidade pensando lá na frente, só olham para o lado. O pessoal é muito complicado", acrescenta Lenny.
Dono de duas lanchonetes e um bar, Lenny hoje prefere dar prioridade aos negócios. É de onde tira um dinheiro que considera 'seguro' para viver bem. No futebol, diz não ter mais essa garantia. Até por isso deixou a carreira para trás.
"Sou um ex-jogador. Eu gostaria de voltar, até a minha namorada gostaria e fala para mim, mas é muito complicado largar os negócios que você tem que, mal ou bem, te dão um dinheiro para você sobreviver, pagar as coisas e você viver bem. Eu passei alguns meses viajando e, quando voltei, estava tudo um caos. Você não consegue ser onipresente e, se você não for presente, parece que não vê a cor do dinheiro", diz.
"Eu tenho duas lanchonetes, um bar no Rio de Janeiro, e talvez, eu voltando, o futebol hoje não me dê o que os meus negócios dão. E eu tenho cabeça suficiente para entender que não é o que eu gosto de fazer. A minha vida, o meu futuro, o futuro da minha família, isso é mais importante neste momento do que jogar futebol, eu estou priorizando aonde ganho mais. Futebol eu posso sair, bater cabeça por dois anos e depois voltar. Daqui a dois anos eu vou estar com 31", acrescenta o jogador, que não joga uma partida oficial há um ano e meio.
"Como eu estou longe do mercado a gente fica esquecido, eu fico na minha, eu não faço força para voltar, então hoje eu sou um ex-jogador que virou empresário, que não sonha com a volta ao futebol, mas que ama aquilo, eu amo futebol, para jogar, agora, para ver futebol não dá, não. Eu amo jogar futebol, é diferente, me fascina uma jogada diferente, uma jogada que o cara pensa, uma jogada em diagonal que ninguém viu, uma jogada de ilusão, porque futebol é ilusão. Você dá um drible, você ilude o adversário... Então eu vou largar os meus negócios e voltar a ser jogador? Não, isso não, eu sou um cara responsável", garante Lenny.
Salário baixíssimo o fez desistir de jogar na Lusa
Lenny chegou a treinar na Portuguesa e recebeu uma proposta para defender o time paulista no começo do ano passado. Porém, não gostou nada do contrato de produtividade que lhe foi oferecido pela diretoria: R$ 1.500 mensais. "Na virada de dezembro para janeiro [de 2016] eu treinei uns 10 dias com eles lá."
"No final de 2015 eu liguei para o Renato Augusto e ele me indicou pra eu falar com o Dr. Joaquim Grava e o Bruno Mazziotti e eu comecei a fazer um trabalho com eles lá. Em janeiro eu deveria ter voltado para o Corinthians, mas não voltei, fiz um amistoso com a Portuguesa e fiz dois gols, mas aí os caras da Portuguesa fizeram uma proposta de 1.500 reais por mês, e isso não tinha condição. Se eu jogasse X partidas eu ia ganhar 4 mil reais, e eu falei: 'não dá, obrigado, eu não tenho condições de aceitar, nem o IPVA do meu carro parcelado em três vezes custa isso, desculpe tá?, foi bom, obrigado, mas não tem condições'", disse.
Figueirense: estrutura péssima e funcionários horríveis
Durante a conversa com o UOL Esporte, Lenny foi questionado sobre o motivo de não ter dado certo em algum clube grande depois de passagens por Fluminense, Palmeiras e Figueirense. Discordou, porém, da parte final da pergunta, e disparou contra o clube catarinense.
Reprodução/Instagram
"Figueirense não é grande, não. Eu operei e o meu empresário falou: 'vamos para o Figueirense, lá você vai ter mais tranquilidade, vai conseguir fazer a recuperação do joelho'. Cheguei lá, uma estrutura péssima, profissionais horríveis e eu naquela vontade de voltar a jogar. E você vai treinando e tentando passar por cima de algumas coisas, e eu era um jogador de explosão, e eu não conseguia entender como havia profissionais num clube de primeira divisão - médico, fisioterapeuta - que não sabiam coisas básicas como, por exemplo: Eu não conseguia dar um chute porque estava com uma lesão no anterior da coxa, mais para cima, e me botavam para fazer musculação. Eu conseguia fazer tranquilamente, só que a lesão que eu tinha quando eu fazia a musculação não reforçava a parte de cima, reforçava a parte debaixo, já perto do joelho, porque você está sentado", recorda Lenny.
"Aí eu peguei um avião e fui no Palmeiras, e o médico me disse: 'olha, você não vai conseguir reforçar isso nunca fazendo isso, você tem fazer assim, ó'. Mas não é possível os caras não saberem. Eu lembro o nome do médico, eu lembro o nome do fisioterapeuta, os caras são uma b..., tanto que até hoje está na Justiça, o Figueirense me deve 13º, férias, dezembro... Dali eu acabei brigando com o meu empresário. Eu tinha grandes perspectivas para a minha vida, mas fazer o quê, a vida é assim", completa.
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