EL PAÍS*Xavier Fontdeglòria
© Fornecido por El País / Kim Jong-un visita uma fábrica.
A Coreia do Norte não publica estatísticas sobre o comércio externo, mas é possível ter uma ideia do que vende, aonde, do que compra e de quem com os dados recolhidos pela base de dados Comtrade, da ONU. Esses dados são compilados a partir de informações enviadas pelas alfândegas do resto dos países.
Em 2015 –ano dos últimos números disponíveis–, os intercâmbios da Coreia do Norte com o exterior ultrapassaram os 6,5 bilhões de dólares (cerca de 20,65 bilhões de reais). De acordo com esses dados, naquele ano o país asiático exportou mais do que Malta, Senegal, Líbano, Cuba ou Afeganistão. Isso sem contar outros 2,7 bilhões gerados pelas trocas então praticadas com a Coreia do Sul, derivados da atividade do complexo industrial de Kaesong, fechado desde o início de 2016 devido ao aumento da tensão entre os dois vizinhos.
Apesar de ser um número não negligenciável, o cenário desenhado por esses dados é de total dependência da China. O gigante asiático compra 82% das exportações norte-coreanas e é a origem de 85% dos produtos que entram na Coreia do Norte. Outros produtos norte-coreanos acabam na Índia, Paquistão ou Angola. Do lado das importações, depois da China, Pyongyang compra da Índia, Rússia e Tailândia.
Por produtos, o mais exportado é o carvão (35% do total), quase totalmente comprado por Pequim. O comércio de hulha (carvão mineral) naquele ano registrou uma receita de 1,075 bilhão de dólares. Isso dá uma ideia do enorme impacto que pode ter o cumprimento por parte da China da mais recente rodada de sanções do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que estabeleceu uma quota máxima anual para as importações de carvão norte-coreano. O gigante asiático disse ter atingido esse limite em 19 de fevereiro e anunciou a partir de então a proibição da compra de carvão procedente desse país para o resto do ano.
Exportadora de têxteis
Além do carvão, o que a Coreia do Norte exporta? Principalmente têxteis: casacos, jaquetas, ternos, calças e camisetas de malha. De fato, o segundo produto mais vendido, no valor de quase 170 milhões de dólares, foram casacos, jaquetas e anoraques para homens e crianças. E o segundo comprador, embora a muita distância da China, foi a Espanha (361.000 dólares). Outro produto entre os dez mais exportados são moluscos, dos quais a França comprou pelo valor de 703.000 dólares.
Apesar das exportações pouco variadas, Pyongyang importa uma vasta gama de produtos: tecidos sintéticos, aparelhos de televisão, telefones, automóveis, pneus, computadores, óleo de soja e peixe congelado estão entre os mais procurados. Mas o que a Coreia do Norte mais precisa é de petróleo, e seus principais fornecedores naquele ano foram China (62,5% do total), México (24,3%), Rússia (10%) e Turquia (2,5%). Também é curioso que a Coreia do Norte tenha exportado petróleo no valor de 69,5 milhões de dólares e que quase a metade tenha ido parar em Burkina Faso.
Outra das características do comércio externo da Coreia do Norte é que o país arrasta um déficit crônico, ou seja, compra muito mais do que vende. Como há décadas Pyongyang não pode se financiar nos mercados internacionais por meio da emissão de dívida, muitos se perguntam como é possível que o país continue sendo capaz de sustentar esse desequilíbrio estrutural.
Os analistas apontam para uma combinação de vários fatores: o investimento chinês no país, um mínimo –mas no fim das contas– superávit turístico graças principalmente às visitas de cidadãos chineses, as remessas enviadas pelos 50.000 trabalhadores norte-coreanos no exterior, a ajuda humanitária e os empréstimos sem juros dos seus aliados poderiam estar ajudando o regime a compensar esse desajuste. Para isso deve ser acrescentado o contrabando na fronteira do rio Yalu –que separa a Coreia do Norte da China– e outras atividades ilegais como a venda de armas, drogas ou a fabricação de dinheiro falso.
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