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terça-feira, 30 de maio de 2017

As badernas de Brasília

Elio Gaspari, O Globo
O ministro da Defesa, Raul Jungmann, teve toda razão quando disse que havia uma “baderna” na Esplanada dos Ministérios, com a vandalização de prédios públicos. Infelizmente, não era a única. Era a mais visível e predatória, mas nem era a mais perigosa.

A baderna de um governo sitiado foi pior, indicando que o palácio de Temer começa a funcionar com a lógica do bunker. Isso aconteceu com o de Dilma e deu no que deu.

O maior bunker de todos os tempos foi o de Hitler. Em maio de 1945, com os russos a poucos quarteirões, a cúpula nazista lutava pelo poder até que Martin Bormann triunfou, recebeu o testamento do Fuhrer e foi para a rua. Andou um pouco e tomou um tiro.

Na tarde de quarta-feira o presidente Michel Temer assinou um decreto autorizando o uso das Forças Armadas para manter a ordem na capital. Jungmann disse que a medida havia sido pedida pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Falso, retrucou Maia.

Ele pedira o uso da Força Nacional de Segurança. Baderna nº 1, o Legislativo pede uma coisa, e o Executivo entrega outra. Jungmann explicou que chamara a tropa do Exército porque só havia 150 homens da Força Nacional em Brasília. Baderna nº 2, não havia a tropa específica na capital, apesar da tensão em que estava o país.

Jungmann disse que botou a tropa na rua porque a Polícia Militar de Brasília perdeu o controle da situação diante da ação de mascarados. Eram 250. Baderna nº 3, pois o efetivo da PM é de 13 mil homens, a capital tem um dos melhores índices de policiamento, a Esplanada dos Ministérios é a vitrine da cidade, e o governador não foi consultado.

No dia seguinte o decreto foi revogado.

Em março de 2016, quando o deputado Raul Jungmann estava na oposição a Dilma Rousseff e integrava o “estado-maior informal do impeachment” ele comentou as informações de que havia conversas de militares com políticos, advertindo que “se a política não resolver a crise, a crise vai resolver a política”. Sabe-se lá o que isso queria dizer.

Sempre que se mexe com tropa, vale a pena lembrar o que disse o marechal Castelo Branco em agosto de 1964. Ele reclamava dos civis a quem chamava de “vivandeiras alvoroçadas [que] vêm aos bivaques bulir com os granadeiros e provocar extravagâncias do poder militar”.

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