Foto: Marcelo Casal Jr. / Agência Brasil
Acusado de ter pedido R$ 5 milhões a Eike Batista para saldar dívidas da campanha de Dilma Rousseff (PT), o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega não hesita em admitir que teme a prisão. Ele até chegou a ser detido no ano passado, mas foi solto logo depois. Sua maior preocupação, como dito em entrevista à Folha de S. Paulo, é porque ele é a "principal pessoa" que cuida da esposa, que sofre com um câncer de intestino. Mantega lamenta também os impactos negativos da operação na sua carreira e vida pessoal. "Eu me sinto terrível porque minha reputação foi colocada por água abaixo. A repercussão foi péssima, péssima. Passei a ter problemas em restaurantes, no hospital. Não posso ter uma vida normal. É uma humilhação ser chamado de ladrão. Eu poderia ter começado a dar palestras, consultorias. Criei um nome lá fora, fiz o Brasil ser respeitado. E acabei jogado nessa vala. A essa altura dos acontecimentos, depois de trabalhar tantos anos para o governo, depois de ter tantos resultados, eu não esperava. Realmente eu não esperava", declarou na entrevista. Nesse meio tempo, ele afirma que tem feito apenas um trabalho interno na Fundação Getúlio Vargas (FGV), participando de pequenos seminários fechados. Na oportunidade, Mantega também teceu duras críticas aos delatores Mônica Moura e Marcelo Odebrecht, que, de acordo com ele, criaram "ficções" com o objetivo de fechar acordos de delação premiada sem apresentar provas. Ministro entre 2006 e 2014, o ex-titular da Fazenda disse que atrapalhava os planos do empreiteiro, em 2009, ao defender o veto a uma lei que concedia anistia à Odebrecht quanto aos débitos tributários. "Eu estava atrapalhando os planos deles. Eu tenho que explicar e vai ficar tudo claro. Em 1969, uma lei permitiu que as empresas exportadoras se creditassem de IPI [Imposto sobre Produtos Industrializados] para estimular as exportações. Esse benefício deveria vigorar até 1990. Mas elas recorriam à Justiça e ganhavam, usufruindo do benefício até os anos 2000. Em 2007, o STJ julgou uma ação validando o crédito apenas até 1990. O pessoal [empresários] ficou desesperado. Eles estavam aproveitando créditos há 17 anos e teriam que devolver tudo com multa e correção. Procuraram o governo: 'Se tivermos que pagar, vamos quebrar'. Eles queriam uma lei que reconhecesse os créditos. Uma anistia. E fizeram essa lei: em 2009, colocaram uma emenda numa medida provisória do Minha Casa Minha Vida, no Senado. Articularam apoio, governadores escreveram a Lula para que ele não vetasse a emenda. E o chato do ministro da Fazenda defendeu o veto", detalhou na sua versão. O então presidente Lula seguiu o conselho de seu ministro, o que contrariou o desejo dos empresários, mas, para não quebrar o setor, complementaram um Refis para que os exportadores pagassem seus débitos em até 12 vezes com alguns descontos. "Essa para mim é a prova cabal de que não demos moleza. Pelo contrário. Fizemos eles pagarem", ressaltou. BN
Nenhum comentário:
Postar um comentário