O jornal Folha de São Paulo encaminhou o áudio da gravação entre Joesley Batista e Michel Temer para perícia técnica. Resultado? Mais de 50 edições. Quem assinou o laudo foi Ricardo Caires dos Santos, perito judicial pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.
A Procuradoria Geral da República divulgou (e causou um terremoto no país) um áudio com indícios claros de manipulação, com “vícios, processualmente falando”, o que não serve como prova jurídica. Para explicar com outras palavras, é como se fosse um documento impresso com rasuras ou com adulterações grosseiras.
A Folha foi buscar informações na Procuradoria para saber se a gravação divulgada é a mesma. Resposta? É “exatamente a entregue pelo colaborador e sua autenticidade poderá ser verificada no processo. Foi feita uma avaliação técnica da gravação que concluiu que o áudio revela uma conversa lógica e coerente”.
O perito Ricardo Molina também foi consultado pelo jornal. Ele não fez uma análise formal, mas disse que além do que todos nós já sabemos, de que a gravação é de baixa qualidade técnica, precisaria de uma perícia completa para ter certeza. Mesmo assim arriscou que “percebem-se mais de 40 interrupções, mas não dá para saber o que as provoca. Pode ser um defeito do gravador, pode ser edição, não dá para saber”.
O Planalto também vai enviar o material para peritos e se for comprovada a existência de montagem, se agarrará à tese de que Michel Temer foi vítima de uma conspiração. Resta saber de quem.
O texto a seguir foi publicado na Folha de São Paulo, com indicações de cortes e comentários:
Em um dos trechos editados, o empresário pergunta ao peemedebista sobre sua relação naquele momento com o ex-deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso pela Lava Jato. As duas respostas de Temer sofreram cortes.
O trecho na gravação divulgada permite o seguinte entendimento:
“Tá.. Ele veio [corte] tá esperando [corte] dar ouvido à defesa.. O Moro indeferiu 21 perguntas dele… que não tem nada a ver com a defesa dele”
“Era pra me trucar, eu não fiz nada [corte]… No Supremo Tribunal totalidade só um ou dois [corte]… aí, rapaz mas temos [corte] 11 ministros”
Em depoimento posterior à PGR, Joesley disse que nesse momento o presidente dizia ter influência sobre ministros do STF.
“Ele me fez um comentário curioso que foi o seguinte: ‘Eduardo quer que eu ajude ele no Supremo, poxa. Eu posso ajudar com um ou dois, com 11 não dá’. Também fiquei calado, ouvindo. Não sei como o presidente poderia ajudá-lo”, afirmou.
Em outro trecho cortado, o empresário, enquanto explica a Temer que “deu conta” de um juiz, um juiz substituto e um procurador da República, declara: “…eu consegui [corte] me ajude dentro da força-tarefa, que tá”.
No momento mais polêmico do diálogo, quando, segundo a PGR Temer dá anuência a uma mesada de Joesley a Cunha, a perícia não encontrou edições. O trecho, no entanto, apresenta dois momentos incompreensíveis, prejudicados por ruídos.
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