Desdobramento da Lava Jato, investigação deflagrada nesta quarta-feira (6) no Rio tem como alvo pagamento de propina na obra da usina nuclear de Angra 3
Ex-ministro e presidente nacional do PDT, Carlos Lupi. Partido recebeu doação de empresas-fantasmas do esquema Eletronuclear (Foto: Elza Fiúza/Abr)
A Polícia Federal e a Procuradoria da República no Rio de Janeiro deflagraram nesta quarta-feira (6) uma operação – desdobramento da Lava Jato – que chegou a um esquema de R$ 48 milhões em pagamento de propina na Eletronuclear, subsidiária da Eletrobras. O dinheiro sujo foi desviado entre 2008 e 2014 da construção da usina de Angra 3, obra de R$ 1,2 bilhão tocada pela empreiteira Andrade Gutierrez. Velho conhecido da Lava Jato, o empresário Adir Assad repassava a propina aos beneficiários do esquema, entre eles o ex-presidente da estatal, o almirante reformado Othon Luiz Pinheiro da Silva, preso novamente nesta quarta-feira. Em 2010, o diretório nacional do PDT recebeu doação das empresas usadas por Assad na corrupção da Eletronuclear.
O esquema foi desmontado pela Operação Pripyat, referência a uma cidade-fantasma da Ucrânia devastada pelo acidente nuclear de Chernobyl. A Justiça Federal determinou a prisão de dez pessoas, incluindo Othon Luiz, que agora ficará no presídio Bangu 8, e não mais em prisão domiciliar. Pedro Diniz Figueiredo, o atual presidente da Eletronuclear, foi afastado do cargo por suspeita de favorecer e ajudar na defesa de Othon Luiz.
Segundo a Procuradoria da República, o operador Adir Assad usava ao menos três empresas-fantasmas no esquema da Eletronuclear. A Legend Engenheiros Associados, a SP Terraplanagem e a JSM Engenharia receberam R$ 168 milhões da Andrade Gutierrez por meio de contratos fictícios. O dinheiro serviu também a outros esquemas de corrupção, não só o da Eletronuclear. Por enquanto, os investigadores evitam falar em políticos envolvidos, mas pelo menos um partido recebeu dinheiro das empresas de Assad. Dados do Tribunal Superior Eleitoral mostram que as fictícias Legend, SP Terraplanagem e JSM Engenharia doaram R$ 319 mil, em 2010, para o diretório nacional do PDT, presidido por Carlos Lupi, ex-ministro do Trabalho do governo Dilma Rousseff. A base eleitoral de Lupi é o Rio de Janeiro.
Procurado por ÉPOCA, Lupi afirmou que estava afastado da presidência do PDT, apesar de sua assinatura aparecer na prestação de contas de 2010. Ele disse que fará um levantamento na contabilidade do partido para saber o que ocorreu. “Numa doação, a primeira coisa que checamos é o CNPJ. Se está tudo legal, não vemos problema”, disse o ex-ministro.
Alvo da Lava Jato em julho de 2015, Othon Luiz – o ex-presidente da Eletronuclear – continuou a mandar na estatal mesmo em prisão domiciliar no Rio. A Polícia Federal e a Procuradoria da República afirmam que o departamento jurídico da empresa cuidava da defesa de Othon Luiz, acusado de receber R$ 12 milhões em propina da Andrade Gutierrez na obra da usina de Angra 3. Atual presidente da estatal, Figueiredo é acusado de interferir na investigação feita por uma comissão interna da Eletronuclear. Salas da estatal que estavam lacradas pelos investigadores foram arrombadas. Funcionários afastados montaram até um Q.G. para tramar contra a apuração.
Na operação desta quarta-feira, a PF prendeu ainda ex-dirigentes da Eletronucelar que recebiam propina junto com Othon Luiz. Também foi decretada a prisão de Adir Assad, que já estava encarcerado desde a Operação Saqueador, deflagrada na semana passada contra esquema de desvio da empreiteira Delta.
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