Só resta rir quando se vê uma proposta dessas. Mas é um assunto sério, tráfico sexual existe
WALCYR CARRASCO - A internet anda doida. Não entendo como descobrem meu e-mail. Ou de amigos. Agora um amigo recebeu uma proposta para fazer cinema pornô. Ele é bonito sim. Segundo a mensagem, ele teria sido descoberto através das fotos do Facebook. E aí começa a loucura. Uma empresa internacional de filmes pornôs estaria vindo para o Brasil, onde se fixará durante um ano, filmando em São Paulo, Rio de Janeiro e Ceará. Procura rapazes e moças, com diversas especificações:
– Eles e elas héteros, para sexo convencional;
– Bissexuais, para filmes de conteúdos diversos, inclusive relações a três;
– Gays flexíveis, dispostos ao que pintar na hora;
– Só ativos ou passivos.
O pagamento seria mensal: R$ 15 mil, com contrato por um ano. Podendo rodar um ou dois filmes por mês e opção de renovação. O texto é educado, mas fere uma convenção do mercado pornô. Nesse tipo de filme, homens costumam ganhar somente quando chegam ao clímax. Ou seja, o pagamento é por orgasmo. Quanto mais orgasmos, maior o salário. Pagamento mensal, com garantias, talvez até trabalhistas, nunca ouvi falar. Sim, como seria a contratação? Por carteira, com direito a fundo de garantia? E as questões trabalhistas? Se ele não der no couro, deve receber pelas horas? Mas um trabalho desses é contado por horas? Nunca ouvi falar de alguém que demorasse horas e horas. Só praticantes de tantra ioga, mas isso envolve uma filosofia, modo de vida e regime vegetariano. Já me contaram de adeptos do tantra capazes de permanecer dez horas em conjunção carnal. Só tentando atingir o nirvana, que deve ser diferente de orgasmo, que costuma ser mais rápido. Mas atores de pornô não demoram horas e horas. São profissas. Bem, o Ministério do Trabalho tem alguma cláusula legal? Eu adoraria descobrir.
Meu amigo deletou a mensagem indignado, portanto não tenho o nome da empresa. Eu não recebi mensagem semelhante. Ninguém me convidaria para fazer um filme pornô. Talvez há uns 40 anos. E olha lá.
Falando sério: a coisa toda me pareceu suspeita justamente por causa do detalhe do pagamento. Eu conheço essa convenção porque, no passado, logo que a pornochanchada acabou, muitos diretores respeitáveis não tiveram outra alternativa. Partiram para o pornô. Roteiristas não. Pornô não costuma usar roteiro, a não ser aquele que todo mundo já conhece. Que em resumo é: ele chega, ela chega e os dois chegam.
Suspeito tratar-se de uma forma de aliciamento. Ilegal. Eu lamento meu amigo não ter guardado a mensagem, para enviar às autoridades. Há uns dois anos, outro amigo, ator, recebeu convite para fotos de propaganda de carros na Espanha. Estranhei:
– Mas não tem teste?
Publicitários sérios testam os atores, escolhem. Assinam contrato. A pessoa já vai sabendo qual é o carro, o cachê e tudo mais. Nesse caso não diziam de que carro se tratava. Ainda pediam para avisar amigas e amigos de boa aparência para irem também. Óbvio, era truque. Talvez para algo pior, como o tráfico de seres humanos.
Imagino quantos jovens caem nesse tipo de história. O sonho de ganhar um dinheiro fácil, de brilhar na tela de alguma maneira, de fazer propaganda no exterior é forte. E, depois, ao que serão levados? Eu comecei tratando o assunto de maneira leve. Só resta rir quando se vê uma proposta dessas. Mas depois, refletindo melhor, a gente vê quanto é sério. Tráfico sexual existe. E a internet, que entra em nossas casas, em nossa intimidade, é um veículo anônimo. Muitas vezes, se formos procurar a origem do e-mail, descobriremos que vem de algum país do Leste Europeu. Não dá para rastrear. Aí, sim, a internet se torna assustadora e perigosa.
Hummm... bem... eu disse que esse tipo de proposta nunca recebi. Mas já tentaram me aliciar, eu aqui com meus 63 anos! Juro. Há alguns meses, comecei a receber uma série de fotos e mensagens, tanto no meu Facebook como no e-mail pessoal. Todas de mulheres de uns 40 anos, nem tão caídas, mas não maravilhosas. Com um português péssimo, tipo tradutor eletrônico e nomes estranhíssimos, queriam me conhecer. Procuravam um grande amor. Prometiam fotos mais reveladoras na mensagem seguinte. Não fui adiante. Mas sei de um italiano que foi. Conheceu uma húngara. Casou-se, teve dois filhos. A húngara tomou tudo o que ele tinha: apartamentos, dinheiro no banco. Ficou literalmente de cuecas. E os dois filhos são adolescentes viciados.
Presente de internet é pior que acreditar em Papai Noel. Acredite, você já passou dessa idade! http://epoca.globo.com
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