Pedro Ivo Almeida /Do UOL, no Rio de Janeiro/Pedro Ivo Almeida/UOL
Jogadores disseram que ainda não sabem motivos pela saída do clube
Mais de 10 dias após serem afastados do Botafogo, Emerson Sheik, Bolivar, Julio Cesar e Edilson quebraram o silêncio e falaram pela primeira vez sobre o desligamento. Os atletas concederam uma entrevista coletiva na tarde desta quarta-feira, no Rio de Janeiro, afirmando que ainda não entendem a saída do time alvinegro e atacaram duramente o presidente Mauricio Assumpção e a estrutura do clube.
Um dos mais críticos foi Emerson Sheik. O atacante, conhecido por declarações polêmicas, abusou da ironia durante toda a conversa com a imprensa. Apesar do tom "brincalhão", ele fez duras críticas e chegou a denunciar que tem gente passando fome.
"Tem gente no clube que passa fome. Faz todas as refeições lá porque não tem dinheiro para fazer compra. Ali tem um ser humano. Ele tem que respeitar isso. É gente com filho recém-nascido sem poder comprar o leite do filho. São sete meses de direitos de imagem atrasados, além de três meses de salário na carteira. Não dá", denunciou.
O principal alvo de Sheik foi o presidente Mauricio Assumpção. Segundo o atacante, todos os desligados foram pegos de surpresa com a decisão.
"Vai continuar esse papo de maluco do car... Ninguém entende. É isso. Ele [presidente] não consegue ser claro. Quatro caras empenhados para tirar o clube da lama que ele deixou e ele faz isso. E ele falou da parte técnica. Eu não lembro dele como nada no futebol. Isso deveria ser o treinador a avalia. Sabemos a importância que tínhamos para o time. Essa era uma preocupação. Com o passar dos dias. Grande ou pequena a história do presidente é inferior à nossa e isso não afetaria. O motivo só o presidente pode responder", disse.
"Eu estava jantando com um amigo e meu telefone a quase duas da manhã e vi que o Julio Cesar tinha me ligado bastante. Eu fiquei preocupado porque somos amigos. Eu pensei que tivesse acontecido algo. Eu liguei para ele e ele falou que nós estávamos afastados. Ele foi muito sério, eu achei que fosse brincadeira. Então entendi que não era uma brincadeira. Ele pediu para ligar para o empresário. A princípio era um afastamento. O Reinaldo (Pita, empresário) pediu para que fossemos ao treinamento na manhã seguinte. A grande pergunta é o porquê de estar acontecendo tudo isso", aumentou.
O humor do atacante voltou a aparecer ao falar sobre a rotina desde que foi desligado do Botafogo. Sem pensar duas vezes, ele diz que se desligou totalmente do futebol e que agora divide seu tempo entre praia e o restaurante Paris 6, do qual é sócio.
"O que eu estou fazendo? Nada. Só vou à praia todo dia pela manhã e janto aqui no meu restaurante à noite", afirmou.
Outro jogador que adotou um tom bastante crítico foi Julio Cesar. Em determinado momento, o lateral afirmou que o presidente deveria ter sido homem para falar com os jogadores pessoalmente e cobrou a quantia que ainda tem a receber do clube.
"Hora nenhuma ele falou com a gente. Deveria ser homem e nos procurar. Ninguém contrata por e-mail ou telefone. E deveria ser assim também na dispensa. Ele nunca participou muito do dia a dia do futebol. Então ele não pode querer falar muito sobre isso [lideranças positivas ou negativas]. Antes de me mandar embora, ele deveria me pagar o que deve. Ele tem que ser homem de assumir. Foi homem de ir para a televisão nos mandar embora, tem que ser homem de nos pagar o que deve", atacou.
O zagueiro Bolivar foi em outra linha e preferiu responder as críticas feitas pelo presidente de que os quatro atletas tinham uma liderança negativa em relação ao elenco. O defensor utilizou sua passagem pelo Internacional para rebater Mauricio Assumpção.
"Se eu sou um líder positivo há quatro meses, os jogadores não pediriam pela minha permanência. Como pode uma pessoa mudar? Todo mundo conhece minha história e eu virar um líder negativo. Hoje você pode pegar os números no Botafogo, eu estava completando quase 100 jogos e ele não me deu oportunidade. Eu fui seis anos capitão no Internacional e ganhei tudo. Não tem como você ser capitão no outro clube , ser líder positivo e depois tudo mudar", defendeu.
Condições precárias
O tom de Emerson Sheik só ficou mais sério ao falar sobre as condições oferecidas pelo clube para o elenco. De acordo com o atacante, alguns jogadores estão passando fome.
"Tem gente no clube que passa fome. Faz todas as refeições lá porque não tem dinheiro para fazer compra. Ali tem um ser humano. Ele tem que respeitar isso. É gente com filho recém-nascido sem poder comprar o leite do filho. São sete meses de direitos de imagem atrasados, além de três meses de salário na carteira. Não dá", denunciou.
"Ele [Mauricio Assumpção] talvez não saiba, mas eu joguei seis partidas no campeonato com o tendão de Aquiles doendo absurdamente. O Botafogo, que tem uma história linda, não tem um campo decente para treinar. Por isso, várias lesões. Isso ele não deve saber. Gente, eu juro, dessa vez eu não fiz nada. Dessa vez [risos]. Foi o pior dirigente que trabalhamos, sim. Quer dizer, nem sei se trabalhei. Só vi ele duas vezes", criticou.
Já Edilson foi ainda mais longe e afirmou que já precisou comprar medicamentos para tratar de uma lesão com dinheiro do próprio bolso.
"Eu comprava meu tratamento do meu próprio bolso. Depois de ter comprado os remédios me mandaram e-mail querendo me dar dura. É uma falta de consideração com os atletas. Eu sei como é difícil, mas um clube como o Botafogo? Acho que é o fim do mundo ter que pagar do meu próprio bolso", revelou.
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