Um grupo de trabalho na Comisão de Educasão, Cultura e Esporte (CE) do Senado está debatendo uma proposta que viza modificar algumas regras da língua portugeza.
É isso mesmo. Se um estudo que tramita no Senado chegar a valer, a primeira frase desta notícia seria escrita desse jeito mesmo. O correto, atualmente, é: “Um grupo de trabalho na Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE) do Senado está debatendo uma proposta que visa modificar algumas regras da língua portuguesa”.
Um grupo de trabalho dentro da Comissão, presidida pelo senador Cyro Miranda (PSDB-GO), tem como objetivo buscar formas para facilitar o aprendizado da ortografia nos países lusófonos — e estuda mudanças ortográficas em nossa língua.
Uma das propostas é a criada pelo professor Ernani Pimentel, pesquisador da língua portuguesa há 50 anos e um dos autores do projeto “Simplificando a Ortografia”. Pimentel quer acabar com o uso da letra “h” antes das palavras, do “ç”, do “ss”, “sc” e “xc” (que seriam substituídos pelo “s” simples), do hífen, do dígrafo “ch” (que seria substituído pelo “x”). Palavras também passariam e ser escritas como o fonema aponta como o “x” e o “s” com som de “z”. A letra “u” após o “g” e “q” e antes de “e” e “i” também seria suprimido.
Ainda com discussão em caráter embrionário, para chegar à vigência, a proposta que for escolhida pelo grupo de trabalho precisaria ser aprovada pelos senadores que integram a Comissão de Educação do Senado, ir a plenário, passar pela Câmara dos Deputados, receber sanção presidencial e ainda ser aprovada em outros países de língua portuguesa. Ou seja, mesmo que o projeto fosse uma unanimidade, poderia levar muitos anos para que as mudanças passassem a valer.
Mudanças ortográficas estudadas no Senado
Homem viraria omem
Fim da letra “h” antes das palavras
Faça viraria fasa
Fim do “ç”
Passa viraria pasa
Acrescentar viraria acresentar
Fim do “sc”
Excelência viraria eselênsia
Fim do “xc” e do “c” com som de “s” (como em cenoura)
Couve-flor perderia o “tracinho”
Hífen deixaria de existir
Chuva viraria xuva
Fim do “ch”
Exame viraria ezame
Fim do “x” com som de “z”
Asa viraria aza
Fim do “s” com som de “z”
Quero viraria qero
Fim do “u” após o “g” e “q”, antes do “e” e do “i”
Pimentel aponta que essas mudanças acarretariam em economia com a educação no país: “Em vez das atuais 400 horas/aula de ortografia ministradas desde o início do fundamental até o fim do ensino médio, sejam utilizadas apenas (ou em torno de) 150″, diz.
O professor disse que o convite para integrar o grupo de trabalho (que também é liderado pelo professor Pasquale Cipro Neto) surgiu após audiência pública de 2009 em que foram tecidas críticas ao acordo ortográfico que entrou em vigor naquele ano. “Na época escrevi até um livro sobre o assunto. Em 2012, começamos a discutir simplificações da ortografia. Fomos a Portugal e vamos a Angola e Moçambique discutir com professores sobre o assunto”.
Pimentel também apontou que há um espaço para sugestões de simplificação do idioma. “No site Simplificando a Ortografia estamos abertos a receber sugestões de mudanças e fizemos um abaixo-assinado de apoio às propostas”. Até o momento, o site tem 33 mil assinaturas.
Ridículas e patéticas
Apesar dos argumentos de quem propõe as mudanças, as medidas têm rejeição por parte de alguns linguistas. O filólogo e professor da UnB (Universidade de Brasília), Marcos Bagno, não economiza críticas ao falar da proposta: “São ridículas, patéticas e merecem todo o desprezo da comunidade de linguistas do Brasil”, diz.
Para Bagno, o argumento de que as novas mudanças facilitariam o aprendizado não é válido. “Aprender a escrever em chinês é muito mais complicado do que aprender a escrever em português, e 94% dos chineses são alfabetizados. A questão é alfabetizar e letrar a população. A ortografia pode ser qualquer uma”, aponta.
Pimentel aponta que as críticas à proposta sempre vêm da academia e não de quem ensina para crianças. “Há pessoas que defendem a etimologia na construção da ortografia. Mas há várias regras em que ela é quebrada. Temos que decidir sermos mais práticos. Assim, as crianças podem aprender melhor”, responde. UOL
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