Por
Humberto Pinho da Silva
No final do século XX, realizei
série de entrevistas a figuras que se notabilizaram, na Arte, no Desporto e na
Política.
Foi trabalho agradável, não só
pela oportunidade de contactar figuras públicas, que apenas conhecia através da
TV e imprensa, mas, mormente ter ficado a conhecer, um pouco, do pensar e da
vida íntima de cada um.
Houve recusas; poucas; já que
as entrevistas não eram agressivas. Só respondiam, se queriam.
A pedido, desliguei em muitas,
o gravador, quando faziam confidências que não desejavam ver publicadas.
Numa, jovem deputado,
recentemente saído de juventude do partido, revelou-me, reações e modo de
pensar de quem frequentava a vida pública portuguesa.
O que mais me impressionou, foi
ter declarado a precisão de obter curso superior para ocupar lugar de relevo na
política.
Qualquer um servia, mas os mais
usuais eram os de Direito e Economia “Quem não têm “Dr.”, é tratado como
inferior, não só pelas bancadas dos outros partidos, como pelos nossos.” -
Confessou.
Disse-me, que não o declaram
abertamente, até chegam a louvar a “habilidade” e a forma como se “ desenrasca”
de situações difíceis; mas no falar, nota-se que para ser respeitado, têm que
ter frequentado a Universidade.
Há quem tenha só os cursos da
“Universidade da Vida “, e faça sucesso, mas esses são os “ revolucionários” da
direita e da esquerda.
Anos mais tarde, no final da
primeira década do século XXl, vim a saber que o jovem político tinha razão, ao
conhecer o caso do deputado que era engenheiro, não o sendo, e o que usava o título
de “Dr.” e mal passara pela Faculdade.
A maioria dos entrevistados
desconhecia pormenores dos progenitores, como: datas de nascimento, casamento e
local onde os pais se matrimoniaram. Senhora, que ocupava cargo de diretora numa
Fundação, por ser familiar do benemérito, confessou-me que nada sabia do
fundador, mas iria perguntar aos avós!...
Outros, todavia, veneravam, os
pais, e guardavam, como relíquias, fotos e objetos do familiar falecido.
Certo dia, uma viúva, terminada
a entrevista, após lhe ter pago o café e as torradas, perguntou-me quanto lhe
dava pelas informações prestadas.
Tratava-se de senhora, que fora
casada com industrial, e segundo me disseram, vivia muito desafogadamente.
As informações que me
transmitiu, eram breves dados biográficos, do marido.
Houve de tudo. Foram mais de
centena e meia, e permitiram-me conhecer melhor a sociedade em que vivia.
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