Instituto de Defesa dos Direitos Humanos (DDH) ficou com quase 80% do que foi arrecadado em campanha para a família do pedreiro. Viúva e cinco dos seis filhos moram em uma casa de dois quartos que precisa de reformas.
Elizabeth Gomes da Silva, viúva de Amarildo, mostra a casa onde a família mora hoje - Renzo Gostoli
Desde julho do ano passado, o pedreiro Amarildo Dias de Souza é o símbolo máximo da luta contra a ação de maus policiais no Rio de Janeiro. O "Cadê o Amarildo?" foi usado tanto para cobrar providências como para embalar a série de manifestações contra o governador Sérgio Cabral. O corpo do homem de 43 anos que, para o Ministério Público, foi torturado e morto por PMs de uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), nunca foi encontrado. A família do pedreiro passou a viver, depois de seu desaparecimento, num quadro agravado da pobreza na qual já se encontrava. Uma bem intencionada campanha conclamou artistas, intelectuais e doadores a contribuir com a viúva e os seis filhos do pedreiro. LEIA MAIS AQUI NA VEJA
Nota de reposta à matéria “Cadê o (dinheiro do) Amarildo?”, publicada pela Revista Veja em 08/03/14
Nota de reposta à matéria “Cadê o (dinheiro do) Amarildo?”, publicada pela Revista Veja em 08/03/14
É falsa a informação dada pela Revista Veja de que o projeto “Somos Todos Amarildo” se destina exclusivamente à aquisição de uma moradia para a família do pedreiro Amarildo, torturado e executado por policiais da UPP Rocinha. Inicialmente, o valor que se almejava reunir era de 60 mil reais, cuja arrecadação se daria com sessenta pessoas cotizando mil reais cada para aquisição de uma casa, mas logo se optou por um projeto mais amplo. Como há outros milhares de desaparecidos no Rio de Janeiro, os beneméritos responsáveis pela iniciativa, liderados pela produtora Paula Lavigne, decidiram recolher fundos para a estruturação de um projeto de pesquisa e assessoria sociojurídica na temática de desaparecimento forçado.
As próprias notícias veiculadas na grande imprensa sobre os eventos organizados para captar finanças e divulgar o projeto – leilão (08/10/13) e show no Circo Voador (20/11/13) – são suficientes para esclarecer que sempre estiveram disponíveis ao público os objetivos do projeto e a destinação dos recursos, vejamos algumas: Zero Hora (07/10/2013) http://migre.me/ienXf, O Globo (07/10/2013) http://migre.me/ieo1f, Portal Uol (08/10/2013) http://migre.me/ieo2W, Folha de São Paulo (08/10/2013) http://migre.me/ieo62, Portal Terra (10/10/2013) http://migre.me/ieo9p, R7 (10/10/2013) http://migre.me/ieoaJ e G1 (29/10/2013) http://migre.me/ieocN.
A divulgação do show com Caetano Veloso e Marisa Monte no Circo Voador também foi explícita quanto ao caráter do evento, vejamos:
“A renda de toda nossa iniciativa será direcionada ao DDH, Instituto dos Defensores dos Direitos Humanos, para viabilizar um projeto completo que pretende traçar um perfil dos desaparecidos na região metropolitana do Rio de Janeiro, preservar a memória dos desaparecidos como forma de luta por uma segurança pública centrada na defesa da dignidade humana, bem como dar suporte jurídico e psicossocial aos familiares das vítimas. Iremos também levantar fundos para o recomeço da família do Amarildo, que além de enfrentar uma tentativa pública de criminalização, com a ausência do pai e sem assistência direta do Estado, viram suas condições materiais, que já eram ruins, piorarem. Com objetivo de dar mais visibilidade ao caso e de dar oportunidade para todos ajudarem na causa, haverá no Circo Voador, dia 20 de Novembro, Dia Nacional da Consciência Negra, o evento Somos Todos Amarildo, com show de Caetano Veloso e Marisa Monte e toda renda revertida para o projeto com o DDH. O show inédito está sendo desenvolvido especialmente para essa ocasião por Caetano e Marisa”. A informação foi veiculada na oportunidade pelo site do DDHhttp://migre.me/ieoqz, no perfil do Circo Voador http://migre.me/ieoGd e nas de páginas de Caetano http://migre.me/ieoIB e Marisa Monte http://migre.me/ieoLx.
Não resta dúvida, portanto, quanto à lisura e transparência na destinação dos recursos auferidos no leilão e show promovidos no final de 2013. Uma mínima pesquisa de matérias jornalísticas e da publicidade dos eventos demonstra o quanto é leviana a denuncia publicada pela Revista Veja. Conforme informamos em nota da entidade de 28/02/2014, foram captados no total aproximadamente 310 mil reais, sendo que até o momento foram gastos 50 mil reais para a aquisição de uma casa para a família de Amarildo e 11 mil reais para reparos e compra de mobília, eletrodomésticos e utensílios. Por conseguinte, a quantia que será destinada propriamente ao projeto será em torno de 250 mil reais.
Até o momento foi transferido para o Instituto o valor de 59.561,34 reais, quantia arrecadada no show de Caetano Veloso e Marisa Monte, destes foram gastos 11.741,34 reais com a já mencionada compra de equipamentos para a residência da família de Amarildo, restando o saldo de 47.820 reais, que será utilizado somente quando iniciado propriamente o projeto, a partir da formação, no segundo trimestre, de um Comitê integrado por notáveis pesquisadores, a ser coordenado pelo DDH. O Comitê será regido por um estatuto e terá como responsabilidades principais a escolha, orientação e fiscalização do projeto executivo. A maior parte do fundo arrecadado, relativa ao leilão, estará sob a responsabilidade dos beneméritos até a aprovação do estatuto.
Embora a execução do projeto não tenha se iniciado, o DDH tem elaborada uma minuta com as principais linhas de ação, que ora disponibilizamos (Projeto Desaparecimento Forçado). É falsa a afirmação da Revista de que se trata de um “projeto ainda indefinido”. Na verdade, as definições estão sendo tomadas e serão democratizadas e aperfeiçoadas com a instalação de um Comitê de especialistas em direitos humanos e segurança pública.
O projeto em questão pretende mapear na cidade do Rio de Janeiro, sobretudo a partir de 2010, os perfis daqueles que desapareceram, por intermédio não apenas de uma pesquisa quantitativa, mas principalmente qualitativa, que permita traçar de forma mais apropriada os casos que se enquadram dentro da ideia de desaparecimentos realizados por agentes do Estado. Tal trabalho permitirá a realização de uma análise mais pormenorizada do quadro de desaparecimento forçado no Rio de Janeiro, bem como incentivará a criação de uma rede de contatos entre famílias de desaparecidos e instituições que atuem no assunto.
Em outra linha de ação, a pesquisa qualitativa dos desaparecimentos, notadamente em áreas de UPP, será complementada com a atuação jurídica no sentido de garantir a reparação simbólica por parte do Estado; e com a atuação psicossocial, que objetiva amparar as famílias destruídas pelo Estado desde o momento que tenha sido suprimido um ente querido de seu convívio, forçadamente.
Por último, esclarecemos que a decisão de permanecer na Rocinha e a casa escolhida para ser comprada foi da família de Amarildo. Sabia-se de antemão da necessidade da construção de mais um cômodo e de que reparos seriam importantes, muitos já realizados. Mesmo assim, optou-se por uma moradia que os mantivessem próximos das relações de afeto estabelecidas em anos de convivência na comunidade. A casa está em boas condições. Todos os parceiros da causa que lá estiveram atestam isso. Ao formalizarmos a entrega da escritura, de comum acordo, consideramos adequado e positivo aceitar que a família ficasse responsável pela construção do novo cômodo, com o nosso apoio, mas estamos à disposição para auxiliá-la nas dificuldades que se apresentem.
Rio de Janeiro, 09 de março de 2014.
Veja o vídeo, feito em 09 de março, onde Elizabeth da Silva e Anderson Souza, viúva e filho do pedreiro Amarildo de Souza, mostram a casa comprada na Rocinha com o dinheiro arrecadado por artistas. Beth e Anderson falaram sobre a falta de apoio do Estado, responsável pela morte do pedreiro, e defenderam o projeto “Somos todos Amarildo”, que vai colaborar com o enfrentamento do problema dos desaparecidos da democracia.
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