Com ousadia e determinação o prefeito de São Paulo enfiou a mão no vespeiro da Cracolândia e conseguiu limpar a área, sem agressões, nem derramamento de sangue.
O plano foi oferecer casa, comida e emprego às cerca de 300 pessoas que viviam ali.
De 200 barracos, apenas 4 não quiseram sair, mas logo foram convencidos.
Foi um trabalho conjunto de várias secretarias.
A Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social cuidou de fazer a abordagem, conversar e auxiliar na retirada dos moradores da pequena favela.
A Coordenação de Subprefeituras e a Segurança Urbana criaram as táticas para que tudo ocorresse de forma ordenada.
A Secretaria de Trabalho e Empreendedorismo foi responsável por integrar os dependentes químicos à Frente de Trabalho. Eles receberam uniformes e auxílio financeiro de R$ 15 por dia para atividades de zeladoria e limpeza. Os beneficiados começaram a trabalhar na semana passada na limpeza de ruas, calçadas e praças.Também serão identificadas as suas profissões originais e haverá cursos de capacitação profissional, de acordo com vontade e aptidão.
A Saúde fará um trabalho de triagem, com cuidados médicos, exames de sangue e aplicação de vacinas. Psiquiatra, enfermeiro, psicólogo e terapeuta ocupacional criarão um plano individual de recuperação para cada adicto, por meio do Centro de Apoio Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS-AD).
Esse tratamento opcional inclui oficinas terapêuticas, medicamentos, psicoterapia e atendimento em grupo, desintoxicação ambulatorial e, se necessário, leitos de internação. Diariamente, um profissional de saúde visitará os hotéis dos participantes.
“Você tem que mudar, você tem que quebrar a ordem. Aquela ordem [da Cracolândia] não admite recuperação”, disse Haddad.
“Criar condições é parte do tratamento”, resumiu Haddad em entrevista ao Jornal GGN.
Tratamento
O psiquiatra e coordenador do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes da Escola Paulista de Medicina da Unifesp, Dartiu Xavier da Silveira, explica o problema do crack: “Falta de cidadania, de abandono total, é um prato cheio para a droga florescer. Então a droga é consequência, não causa. Essa é a grande constatação”, completou.
De acordo com ele, qualquer intervenção tem uma taxa de sucesso de 35%, no máximo. Ou seja, 65% não terão abstinência.
“A partir daí, existem duas estratégias: ou abandona, deixa na rua, se drogando e morrendo; ou a maneira europeia, que é a redução de danos – ainda que não consiga parar de usar drogas ou que recaia, existem formas de consumo menos prejudiciais, que permitem com que você trabalhe, tenha família, sociabilidade”, explicou.
Histórico
Tudo começou há 6 meses, com estudos da prefeitura.
Depois da inserção de Equipamento Público dentro da Cracolândia, em julho do ano passado, viram que era necessário trazer os moradores da pequena favela para a sala de reuniões da prefeitura.
Naquela mesa de mais de 15 cadeiras, os dependentes químicos sentaram-se com Haddad, foram ouvidos e de lá saiu um pacto.
“O acordo com eles é o seguinte: acabou a Cracolândia”, contou o prefeito.
“Só o que aconteceu nesses 3 dias é o suficiente para chamar a atenção sobre essa mudança de paradigma. Nós removemos 300 pessoas da rua sem um gesto de violência”, falou.
“Coerção não leva a nada. Aquilo é medida higienista, de limpeza, que orna com uma limpeza étnica, porque vai excluir ou aprisionar os pobres e os negros. Porque os ricos brancos vão ficar nos seus apartamentos, usando drogas, ou no máximo numa clínica de alto luxo”, disse o psiquiatra.
O jornalista Luis Nassif descreveu no site do Jornal GGN: "E o centro da cidade amanheceu em paz. No dia seguinte, jornalistas incrédulos testemunharam viciados ajudando a limpar a cidade. Despidos dos andrajos e da sujeira, um deles foi reconhecido por um colega que fez doutorado com ele em Portugal; outro foi localizado pela família, que o reconheceu em um programa de televisão. Que o caminho aberto seja trilhado por outros prefeitos de boa vontade."
“De Braços Abertos”, o projeto do prefeito de São Paulo para acabar com a Cracolândia, teve resultado tão rápido quanto as inúmeras críticas que recebeu.
Os telejornais noticiaram que dependentes foram vistos fumando crack no 1º dia de trabalho em SP, o que já era de se esperar.
O consumo de drogas, porém, foi menor do que antes da operação da prefeitura.
O tempo dirá quem está certo: os críticos ou o prefeito.
Com informações do JornalGGN e G1.
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