Paloma Oliveto - Correio Braziliense
Não é preciso dominar um idioma para saber quando os falantes daquela língua estão conversando. Em português, inglês ou javanês, o ato de emitir sons, silenciar para ouvir o que o outro tem a dizer e reiniciar o discurso é, universalmente, indicativo de um bate-papo. A novidade é que os humanos não são os únicos a fazer isso. Chimpanzés e até saguis — esses últimos, primos distantes do homem — entabulam uma boa conversação, de acordo com dois estudos independentes publicados ao longo da semana. Além de revelar aspectos ainda desconhecidos da comunicação entre animais, os artigos, segundo especialistas, dão pistas sobre a evolução da linguagem do Homo sapiens.
A emissão de sons com o objetivo de fornecer alertas já era conhecida pelos cientistas. Algumas espécies de mamíferos e aves conhecidamente avisam os outros membros do grupo quando há perigo por perto. Fazem isso por gestos ou vocalizações. Também se comunicam por meio de sons em situações como brigas e brincadeiras. Agora, porém, os pesquisadores acreditam ter comprovado que, pelo menos entre os primatas não humanos, a conversa é uma realidade. Não se trata apenas de emitir um grunhido que signifique, por exemplo, “cobra à vista”. O que os cientistas observaram nos experimentos recentes foi algo muito parecido com o diálogo.
Estudioso do comportamento animal, o psicólogo da Universidade de Princeton Asif Ghazanfar publicou um estudo na revista Current Biology no qual afirma que os saguis esperam sua vez para emitir sons quando outro indivíduo da espécie está se expressando. Segundo Ghazanfar, esse ato universal está associado ao diálogo. “Parar para escutar é o fundamento de uma forma de comunicação mais sofisticada. Você não consegue compartilhar informação se está constantemente falando por cima do outro”, justifica.
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