Falar sobre sexo com o filho ainda é uma dificuldade para muitos pais. Resistência, vergonha, situações constrangedoras e falta de desenvoltura são alguns fatores que impossibilitam os adultos de abordar este assunto com os pequenos. Muitos pais, por conta da própria falta de uma educação sexual, de uma criação rígida e muito reprimida, não sabem como conversar e não conseguem acolher este momento dos filhos.
A tendência dos pais é perpetuarem uma rigidez e conceitos do passado que deveriam ser desmistificados. Estas concepções sexuais se mantêm quase que intocáveis e criam raízes cada vez mais sedimentadas e petrificadas nas famílias e na sociedade. As crianças passam por fases que vão favorecer no seu desenvolvimento psíquico e emocional. É importante os pais ficarem atentos a estas fases e abordarem questões sobre sexualidade que ajudem esta construção.
A partir dos quatro e cinco anos, a criança inicia a famosa fase dos “por quês”. Perguntas como: "O que é?", "Como é feito?" são comuns e é nesta fase que é essencial que os pais elucidem e forneçam as respostas, usando a linguagem adequada e deixando claro que essas coisas pertencem ao mundo dos adultos e farão parte da vida do filho no futuro. Com uma linguagem fácil e lúdica, quanto mais os pais demonstrarem a importância do filho e enfatizar o amor e carinho que sentem por ele, mais isso transmitirá segurança e acolhimento.
O ideal são os pais ficarem atentos e sensíveis às investidas da criança para reconhecerem a si e os outros. Os pequenos criam identificações e passam a se olhar através da observação aos pais ou de quem está mais próximo dela. Imitam seus objetos de amor e repetem seus movimentos. É natural que a curiosidade pelo corpo dos pais se acentue nesta fase. Um pedido para tomar banho com os pais é uma forma de a criança conhecer melhor quem são essas pessoas que cuidam dela e esse reconhecimento acontece como num espelho.
Sem apressar o ritmo dos filhos, os pais, aos poucos, podem explicar aspectos que possam ajudar a compreensão da criança sobre o nascimento e a gravidez. Mas nada deve acontecer com pressa e sem a exigência de informar tudo para a criança.
Evite explicações mirabolantes e fantasiosas como o da “cegonha”, mas a alusão à sementinha que passa do órgão sexual do pai para o da mãe pode ser usada sem problemas. Falar o nome correto dos membros do corpo humano ajuda a criança nomear partes do corpo. O pensamento nessa idade é fantasioso e egocêntrico, o que desperta interesse por histórias mágicas. Apelidar os genitais reforça estereótipos, tornando os conceitos discriminatórios e até mesmo agressivos.
É natural que a curiosidade pelo corpo dos pais se acentuem. Sem estereótipos, conceitos preconceituosos e discriminatórios, os pais podem explicar sobre o corpo da mulher e do homem, mas sem privilegiar um o outro. As questões de gênero, masculino e feminino devem ser respeitadas, mas deixando claro que meninos e meninas não são rivais e que não existe prevalência de um ou de outro, são apenas diferenças fisiológicas. A criança deve ser estimulada a brincar e interagir com todas as outras crianças, sem distinção e que não há mal nisso.
Tocar e manipular os órgãos genitais pode acontecer. Muitos pais ao perceber isso se sentem constrangidos e resistem em abordar a criança para falar à respeito. O olhar moralista em nada ajuda e só cria distanciamento na família e cria-se censura e tabus. Para a criança conhecer o corpo é preciso descobrir sensações agradáveis neste corpo. Este autoerotismo é necessário para a integração da criança. Não é adequado oprimir e proibir o comportamento, mas os pais devem ressaltar que não é comum as pessoas fazerem isso na frente dos outros.
Aos 8 anos a criança já presta atenção ao sexo oposto. É neste momento que os pais podem conversar com os filhos sobre a diferença entre homens e a mulheres, avançando um pouco mais no sentido de conversar com a criança sobre características de meninos e meninas. As diferenças físicas já são reconhecidas e essa conversa deve avançar no sentido de indicar que os órgãos masculinos e femininos são usados para gerar os bebês.
O período de estabilidade é muito importante na aquisição de valores, regras e normas socialmente aceitos. As identificações construídas anteriormente como a mãe e o pai ajudar no desenvolvimento de características masculinas e femininas se entendem até os 11 anos e é uma preparação para ingressar na pré-adolescência e, portanto, início da puberdade.
Na adolescência, o objeto de desejo não está somente no próprio corpo, mas no outro também. Nesse momento, ambos os sexos têm consciência de suas identidades sexuais e assim, começam a buscar formas de satisfazer suas necessidades sexuais. A busca não é projetada aos pais, mas à outras pessoas e grupos que não sejam da família.
Com isso a criança busca novas referências e consequentemente, se afasta dos pais para se vincular aos outros. Os pais devem dar espaço para o pré-adolescente, o diálogo deve ser constante sem ser invasivo e agressivo e deve seguir no sentido de orientar, mas principalmente, passar confiança e segurança. Acolher o filho não é sufocá-lo, preocupar-se demais, exigências e imposições prejudicam o desenvolvimento da criança, mas mimos em demasia são igualmente limitadores.
Importante, a educação sexual, primeiramente, deve partir dos pais. A escola é uma extensão do ambiente familiar, mas que abordará a sexualidade de maneira científica como aspecto fisiológico, seu funcionamento e prevenção. Ainda assim, muitos pais não assumem responsabilidades que são deles e cobram da escola e professores esta função.
A sociedade está mudando significativamente e as mentalidades, pensamentos e opiniões das pessoas devem acompanhar este movimento. É necessário que pais e filhos estejam alinhados à estas mudanças e conversem sobre estas transformações sociais. As famílias, por exemplo, são as evidências destas metamorfoses. É importante os pais mostrarem aos filhos outros modelos de família, até porque, o conceito de família vai se moldando às novidades. Reconsiderar antigas regras e rever conceitos sexuais é construtivo e enriquece o vínculo afetivo de pais e filhos. Aprender juntos é sempre melhor!
(*) Breno Rosostolato é psicólogo.
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