Por
Humberto Pinho da Silva
Por certo já vos contei o que
aconteceu quando fui a loja chinesa comprar material escolar. Na hora do
pagamento, o comerciante, num português macarrónico, disse-me que não sabia o
que era: “ factura”.
Como o material era para uma
escola, havia necessidade de provar a saída de verba, com recibo ou factura.
Bem expliquei, tintim por
tintim, o que era factura, mas o negociante, de olhos oblíquos, sorrisinho
velhaco, apenas repetia em português quase inelegível: - “ Facturra!? …
facturra !?… Não sei o que é! ; Recibo!? …recibo!?; também nõ sei.”
Não tive outro remédio se não
trazer o material – que era barato – sem a respectiva fatura.
Vem este grotesco episódio a
propósito da obrigatoriedade dos negociantes passarem factura.
Após ter saboreado o cafezinho,
na confeitaria habitual, fiquei a conversar com um dos sócios, sobre essa
obrigação.
Levantando a voz, declarou que
é uma estupidez impraticável, que levará à ruína muitos comerciantes.
Discordei, argumentando que as
farmácias fazem-no, seja qual for o preço do medicamento.
Respondeu-me
que eram ricas, e bem podiam viver sem fugirem ao fisco.
Esquecem-se que a Pátria é um
imenso condomínio. Se todos contribuírem, todos ganham. Se os condóminos não
pagarem atempadamente, a manutenção do prédio não se faz. Por isso, muitos
imóveis encontram-se em estado lastimoso. O mesmo acontece à Nação.
Esta mentalidade,
característica dos povos latinos, leva-os à miséria e à ruína dos países.
Certa vez escutei o Dr. Bagão
Félix, então Ministro das Finanças, declarar: que fizera obras em casa. Ao
pedir o orçamento, o mestre-de-obras, perguntou-lhe: “ Senhor Ministro com IVA
ou sem?”; ou seja com recibo ou sem recibo?
Com povos
assim é impossível haver bons governantes.
E assim, os povos mais
honestos, têm melhor nível de vida, do que os latinos, que se orgulham,
declaradamente, de sonegarem os impostos, sempre que podem.
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