Por Pedro Luiz Rodrigues
Nos Estados Unidos, quando um presidente ou um político vai chegando ao final de seu mandato, sem poder ser reeleito, é chamado, sem qualquer sentido ofensivo, de ‘lame duck’, literalmente, o ‘pato manco’.
Nos Estados Unidos, quando um presidente ou um político vai chegando ao final de seu mandato, sem poder ser reeleito, é chamado, sem qualquer sentido ofensivo, de ‘lame duck’, literalmente, o ‘pato manco’.
A expressão vem de longe. Foi cunhada no século 18 na Bolsa de Londres, em relação aos clientes das corretoras que não conseguiampagar seus débitos e que vinham, murchos e de andar troncho, pedir mais prazoe melhores condições.
Alguns observadores mais argutos observaram que na também política uma mesma linguagem corporal e psicológia era exibida, quando o titular de um cargo importante estava prestes a regressar à vala comum. Os sintomas são conhecidos: perde-se o viço e o andar escorreito é substituído por aquele próprio dos marrecos. Em alguns casos, perde-se também, a dignidade.
Daqui a pouco mais de um mês, o deputado Marco Maia deixará a Presidência da Câmara dos Deputados e voltará a ser apenas mais um dos quinhentos e tantos deputados federais que frequentam Brasília três dias por semana. Está, portanto, no período do ‘pato manco’, na época de fazer mancadas, e por essa razão faria jus a uma certa complacência.
Não pensem que é fácil; trata-se de transição difícil. O cafezinho já não é mais servido com a regularidade de antes, e às vezes chega morno. Os que tratam de mantê-lo cercado de privilégios já não têm o mesmo afã, mais interessados em saber quem será o sucessor.
E a pompa e circunstância com que rapidamente se acostumam os presidentes da Câmara, particularmente nas ocasiões, quando ocasionalmente podem ter o gostinho de assumir a Presidência da República por uns dois ou três dias, quando viaja a Presidente e o vice? Tudo o que é ilusório se desmancha no ar.
E saber que não vai ter mais aquele negócio da placa verde-e-amarelo no carrão, sempre seguido por uma ofuscante segurança? E os jornalistas, então, que hoje o perseguem por toda parte e que daqui a pouco não lhe estarão dando a menor bola… ?
Gente, a perda de tudo isso dói.
É, portanto, momento, agora, de criar uma bandeira, um slogan para a próxima campanha eleitoral.
Como seu desempenho na presidência da Câmara não pôde sob nenhum ponto-de-vista ser considerado como brilhante, era necessário criar algo de impacto.
Que tal peitar mais uma vez o STF, e oferecer asilo na sala da presidência da Câmara dos Deputados aos criminosos com bótom de deputado federal condenados por corrupção? Assim pensou, assim anunciou: se a Justiça mandar levar os condenados para o Presídio da Papuda, eles podem vir se refugiar no Congresso.
Uma primeira preocupação, aliás, seria a de pedir à TV Câmara para esclarecer que o asilo só valeria para criminosos que tivessem sido eleitos deputados federais. Os demais criminosos que se lasquem, porque lugar de bandido é mesmo na cadeia…
Outra questão de ordem: a Polícia da Câmara seria mesmo polícia para valer, ou é apenas um serviço de segurança? Como polícia, não seria sua obrigação prender procurados pela Justiça que encontrem valhacouto em sua jurisdição?
Outra questão de ordem: E o José Dirceu, que não é mais deputado? Também ele poderia se homiziar na sala de Sua Excelência, ou seria barrado?
O Deputado Marco Maia deve ter pretendido produzir, como produziu, grande repercussão na imprensa.
As manchetes com suas declarações serão certamente lembradas até a campanha: Maia oferece refúgio a criminosos, que beleza! Não sei qual o impacto desse tipo de notícia sobre o eleitor gaúcho, mas tenho certeza de que a gente de bem do Rio Grande do Sul, que é a amplíssima maioria, a considerará inaceitável.
Ele pensa que é sol nascente, mas é apenas um meteoro cadente. Na verdade, é melhor que sua proposta seja considerada como uma piada, para preservar o Congresso de mais um desgaste em sua imagem já tão combalida.
Ninguém que valha a pena vai aplaudi-lo, Deputado Marco Maia, porque Vossa Excelência está equivocado. Se tiver dúvidas, ligue para meu ex-colega do JT, o presidente do PT, Rui Falcão. Tenho certeza de que ele não poderá estar de acordo com toda essa trapalhada
E com que cara vai ficar a Presidente Dilma, quando participar no ano que vem, da reunião do G-20 que tem por tema principal o combate à corrupção. Como vai explicar que a Câmara abrigue bandidos condenados?
Felizmente o tempo passa rápidamente e teremos recesso do Congresso em janeiro. Na prática, Maia já pode ser considerado como ex-presidente da Câmara.
Daqui por diante suas mancadas não mais afetarão a imagem da Câmara de Deputados nem a do Brasil.
Que bom.
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