MÁRCIO FALCÃO / FELIPE SELIGMAN / DE BRASÍLIA
O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, afirmou nesta quarta-feira (19) que recebeu documentos do empresário Marcos Valério que comprovariam seu depoimento envolvendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no mensalão.
Gurgel, no entanto, adotou um discurso cauteloso em relação a participação de petista no esquema, já que Valério promete "declarações bombásticas" que não se confirmam.
Entre o material repassado por Valério ao Ministério Público estão comprovantes de depósitos que teriam sido repassados a aliados para pagar despesas do petista.
O procurador, no entanto, evitou fazer considerações sobre a participação de Lula no esquema, colocando em dúvida as falas de Valério e garantindo que irá analisá-las em "profundidade" e "rapidamente".
"Ele teria entregue dois comprovantes de depósitos. Isso tem que ser avaliado, assim como quem são os beneficiários desses depósitos, em que contexto isso foi feito. Tudo isso, enfim, tem que ser aprofundado para que a atuação do Ministério Público seja responsável e com objetivo de tudo apurar", disse.
"Com muita frequência, Marcos Valério faz referência a declarações que ele considera bombásticas, etc, e quando nós vamos examinar em profundidade não é bem isso. Mas vamos ver o que existe no depoimento que possa motivar futuras investigações. Como sempre, nada deixará de ser investigado", completou.
Gurgel disse que uma eventual investigação do ex-presidente será feita por procuradores que atuam na primeira instância da Justiça. "Quanto especificamente ao presidente Lula, eventual investigação já não compete ao procurador-geral da república já que o ex-presidente já não detém prerrogativa de foro. Então se estiver algo relacionado ao ex-presidente isso será encaminhado à Procuradoria da República de primeiro grau", disse.
Gurgel negou que Valério tenha dado um segundo depoimento após envolver o ex-presidente Lula nas denúncias. "Não é verdade. Não houve isso. Não houve nenhum depoimento a não ser aquele que ocorreu em setembro", disse.
"Desde o início da ação penal 470 [mensalão], a conduta de Marcos Valério foi de afirmar esse interesse, mas não concretizar esse interesse com declarações efetivamente importantes para o Ministério Público. Temos agora esse depoimento prestado em setembro e ele será avaliado. Enfim, se tiver outras iniciativas nesse sentido, o Ministério Público está aberto, mas é preciso que haja consistência no que for alegado", afirmou.
E completou: "o Ministério Público não pode ser instrumento de qualquer coisa que não seja adequada.
Segundo o procurador-geral, a defesa de Valério informou que ele não precisa de proteção. "Claro que esse é um aspecto que nós não podemos descuidar e temos que assegurar que ele tenha toda a proteção que seja necessária. Mas a última informação era nesse sentido, de que não havia necessidade de nada nesse sentido".
No julgamento do mensalão, Valério foi condenado a mais de 40 anos pelos crimes cometidos no esquema. Considerado operador do mensalão, após a condenação, Valério procurou o Ministério Público Federal querendo prestar colaborações. A medida foi interpretada como uma medida para forçar que ele entre no programa de proteção a testemunhas para não cumprir a pena.
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