Aliny Gama Do UOL, em Maceió
Pesquisadores encontraram fósseis de um dinossauro bípede carnívoro cuja espécie nunca foi encontrada no Brasil. A descoberta foi feita em julho, na Ilha do Cajual, no município de Alcântara, na região metropolitana de São Luís. O resultado do trabalho foi publicado na revista científica internacional Cretaceous Research, da Inglaterra.
A descoberta ocorreu após cinco anos de análises em fósseis de nove dentes pertencentes a uma espécie desconhecida de dinossauro, que foram retirados de uma pedra da Laje do Coringa. O material foi recolhido durante coleta de fósseis feita por estudantes de graduação do curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).
O resultado da pesquisa mostra que existia uma diversidade bem maior de espécies de dinossauros que habitaram a terra. “Após estudo minucioso, envolvendo a cooperação de cientistas brasileiros e norte americanos, chegou-se à conclusão de que se tratava de um novo grupo de dinossauros terópodes (bípedes carnívoros) documentado no Brasil”, disse ao UOL o paleontólogo Rafael Lindoso, doutorando do Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Segundo Lindoso, a Ilha do Cajual possui um dos mais importantes sítios fossílíferos (não arqueológico) e “reúne a maior concentração de ossos de dinossauros por metro quadrado que qualquer outro em território nacional.”
Após as análises, os pesquisadores também descobriram que o animal pertence ao grupo dos noassaurídeos, mas a espécie não recebeu nome devido à quantidade insuficiente de material fóssil. Os fósseis do dinossauro brasileiro estão guardados na coleção paleontológica da UFMA.
“Serão necessários novos achados em melhor estado de preservação para que possamos batizar a nossa espécie. Entretanto, as informações reunidas até o momento nos permite afirmar que se trata de um novo grupo de dinossauros identificado no Brasil, conhecido como Noassaurídeos, e um dos mais antigos do mundo”, explicou o pesquisador.
A pesquisa mostrou que o animal era de uma espécie rara e tinha uma dentição incomum entre os dinossauros carnívoros com “bordas serrilhadas que percorriam a face lateral dos dentes, e não a região anterior e posterior, como comumente se observa na grande maioria dos dinossauros carnívoros.” A provável dieta do noassaurídeo brasileiro era à base de peixes.
Segundo o paleotólogo, devido à fragilidade do esqueleto do noassaurídeos, foram raras as descobertas de fósseis do grupo. Entretanto, foram registrados achados na Europa, África, América do Sul, Índia e Madagascar.
Diversidade
A idade do fóssil do dinossauro brasileiro foi determinada pela idade da pedra em que os dentes do animal foram encontrados, que é de 95 milhões de anos. O fóssil é um dos mais antigos e maiores do grupo de noassaurídeos já encontrado na América do Sul.
“As rochas que afloram no litoral maranhense foram datadas a partir da década de 1960, através de estudos e levantamentos realizados pela Petrobras. Desse modo, todo fóssil encontrado nessas rochas possuem a mesma idade desta”, afirmou o pesquisador.
Para o cientista, a descoberta da nova espécie “representa um avanço no conhecimento dos dinossauros do Brasil e do mundo.” “Nos permite estabelecer novas teorias acerca dos movimentos e distribuição dos continentes no passado e, consequentemente, do clima. Adicionalmente, a evolução desses incríveis animais passa a ser entendida sob uma nova ótica, incluindo espécies que habitavam o Nordeste brasileiro”, ressaltou Lindoso.
De acordo com o paleontólogo, os dentes do dinossauro encontrado no Maranhão são de pequeno porte –apesar de ser considerado um dos maiores dos Noassaurídeos. “A espécie foi identificada analisando-se outros fósseis de dinossauros carnívoros no mundo, buscando semelhanças e diferenças em dentes de várias espécies que permitissem classificar o novo achado. Após esse estudo, constatou-se notável semelhança da espécie brasileira com uma de Madagascar, conhecida como Masiakasaurus knopfleri.”
O resultado foi reforçado com o estudo comparativo de idade dos espécimes e a distribuição geográfica. “O novo achado deveria se encaixar em um cenário, atualmente aceito pelos paleontólogos, de que esses animais viveram em massas continentais reunidas no hemisfério sul (Gondwana) e durante o período Cretáceo, entre 145 e 65 milhões de anos atrás. Chegamos a conclusão de que a descoberta brasileira se encaixa perfeitamente nesse cenário”, afirmou Lindoso. O Gondwana correspondente ao que é hoje a África, América do Sul, Antártica, Austrália e Indo-Madagascar.
Segundo o pesquisador, o ambiente Cretáceo nas terras de Gondwana tinha por característica um estuário, com a presença de “rios enormes desaguando no mar, vegetação luxuriante em meio a um clima árido. Foi a época de surgimento do Atlântico Sul, quando apareceram os primeiros golfões e as elevações do nível do mar assolavam o litoral.” O cenário era de transformação e a ocorrência de terremotos e chuvas eram constantes que criavam novos habitats de espécies animais e vegetais.
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