(...) Os países sem tradição das indústrias domésticas, consolidadas em séculos de costume, perdem a cada dia os elementos distintivos, uniformizando-se, nivelando-se, monotonizando-se.
As concepções modernas da arquitetura tentam dar às cidades da China ou do Pólo as mesmas fisionomias. São os mesmos arranha-céus, explicados com palavreado imponente, mas tendo as finalidades lógicas das utilizações máximas do terreno que se valorizou demasiado.
O resultado é que as cidades estão ficando iguais. Certos aspectos de avenidas, blocos de casas altas de dez e mais andares, não diferem uns dos outros. Olhando uma fotografia onde os arranha-céus sacodem para o alto sua tonelagem de cimento armado, alinhados em fila, em avenidas que se recruzam em desenho retangular, ninguém é capaz de identificar se trata de Istambul ou do Cairo, Ipanema no Rio de Janeiro ou Avenida de Mayo em Buenos Aires, uma Rua de Paris atual ou de Belo Horizonte.
(...) Como estamos assistindo aos espetáculos mais furiosos de ódio, ambição e bestialidade de homem contra homem, não passa despercebido a outra luta noutro setor da batalha.
O homem luta desesperadamente contra a Natureza para reduzi-la à unidade morfológica, ao monoteísmo estético e cômodo, princípios indispensáveis ao domínio de um só homem ou de um só povo sobre todos os outros.
Na diversidade dos costumes o domínio de um só é impossível.
Luís da Câmara Cascudo
In: Diário de Natal, 12 de novembro de 1949 - Luís da Câmara Cascudo: 30 de dezembro de 1898 — 30 de julho de 1986
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