Vladimir Putin voltará a ser presidente da Rússia, após um "afastamento" de quatro anos, período no qual ocupou o cargo de primeiro-ministro, mas desta vez terá que fazer frente a uma contestação política sem precedentes e ao estancamento econômico que ameaça o país, afirmam especialistas.
A priori, tudo vai bem para o homem forte da Rússia: eleito no primeiro turno com mais de 60% dos votos - segundo resultados parciais - para um mandato de seis anos, que poderá renovar uma segunda vez, teoricamente poderá se manter no Kremlin até 2024, tornando-se o político há mais tempo no poder depois de Stalin.
No entanto, segundo analistas, a permanência de Putin no poder desta vez é ameaçada pelo estancamento da economia, como a que a União Soviética sofreu na época de Leonid Brejnev.
"Não é rumo a estabilidade para onde nos dirigimos, mas para o estancamento: a economia não se desenvolve e o sistema não é eficaz", avalia o cientista político Alexander Konovalov, do Instituto de Estudos Estratégicos de Moscou.
Opinião compartilhada por Mark Urnov, da Escola Superior de Economia. "O sistema precisa de reformas profundas, políticas e econômicas, mas não há nem os recursos financeiros, nem os recursos políticos para fazê-lo", afirma.
Urnov dá como exemplo a luta contra a corrupção, uma praga denunciada tanto por Putin quanto pela oposição, mas o futuro presidente "não pode lutar contra a corruoção". "Isto o obrigaria a agir contra seu entorno. E como sua popularidade cai, não pode fazer guerra em seu próprio grupo", argumenta o especialista.
Consultado pela AFP, Konovalov assegura que "um dos principais desafios que Putin enfrenta é que tudo está relacionado com o preço do petróleo. Se o preço do barril é inferior a 130 dólares, será impossível para ele cumprir suas promessas e equilibrar o orçamento".
Em caso de queda do preço do petróleo, "não se pode excluir que haja agitação política e violência", continua o especialista.
Em várias ocasiões nos últimos três meses, dezenas de milhares de pessoas se manifestaram em Moscou e em outras cidades do país para protestar contra a fraude registrada nas legislativas de dezembro, nas quais venceu o partido no poder.
Estas manifestações sempre foram pacíficas até o momento e não foram constatados atos de violência por parte dos opositores.
A decepção do povo russo aumentará após as presidenciais "e a contestação crescerá", segundo Konovalov, que adverte para o risco de radicalização da situação.
"Pode-se temer uma radicalização, não de parte da oposição, mas de parte da elite que rodeia Putin, que está nervosa", assegura Urnov.
Nas últimas semanas, os cientistas políticos têm aumentado as análises sobre a possível evolução do regime, após o retorno de Putin ao Kremlin, sem chegar a entrar em acordo: alguns preveem uma certa abertura para a oposição, outros um endurecimento do poder frente aos contestatários.
Segundo o analista Yuri Korguniuk, "o poder vai ensaiar estratégias diferentes". "Primeiro, tentará fazer pressão sobre a oposição. Quando vir que isto não dá resultado, tentará se abrir. Mas esta abertura não será vantajosa" para ele.
A oposição extraparlamentar que se manifesta nas ruas atualmente é um conjunto heterogêneo e sem um verdadeiro líder.
"Se o regime escolher o confronto violento, a oposição modificará sem dúvida seus métodos e seus objetivos de luta. E muito provavelmente, emergerão novos líderes mais radicais", considera o escritor Boris Akunin, um dos promotores das marchas contra Putin em Moscou. Da AFP
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