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terça-feira, 13 de março de 2012

Protetores de animais se mobilizam contra exportação de jegue

Com o recente anúncio de que os chineses pretendem importar 300 mil jumentos por ano do Nordeste ainda no campo das intenções, os protetores de animais e defensores do jegue começam a ganhar espaço na internet e blogs em protesto contra a negociação.
No site “petição pública”, circula um abaixo-assinado – anônimo – pedindo que os Ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente vetem o que consideram “verdadeira carnificina”. O abaixo-assinado diz ter comprovação de como os animais são tratados na China – “ursos têm sua bile extraída sem anestesia para uso medicinal” – e pede um fim à vivissecção. “Por um tratamento digno aos jegues, que ajudaram a erguer muitas das grandes cidades nordestinas”, defende.
Já o site “Acorda cordel” destaca “o massacre do jumento nordestino”, com o poeta “Cancão de Fogo” conclamando os parceiros a se mobilizarem em defesa do “nosso irmão”. Jô Oliveira o atendeu, propondo a campanha “Adote um jumento. O Menino Jesus lhe agradecerá”.
Os jumentos, companheiros de vida e de aflição do agricultor do semi-árido nordestino, começaram a ser substituídos pelas motos no trabalho de cercar o gado, buscar água no riacho mais próximo e transportar materiais e pessoas, especialmente depois da política de distribuição de renda do governo federal e facilidades de crédito para compra do veículo. De acordo com dado divulgado em junho do ano passado pela Associação Brasileira de Fabricantes de Motociclos, Ciclomotores, Motomotores, Bicicletas e Similares (Abraciclo), a frota de motos no Nordeste cresceu 486% entre 2000 e 2010.
Em 1967 o Nordeste tinha sete milhões de jegues. Hoje este número é estimado em 1,2 milhão. Mesmo com a forte redução, ainda se considera que a região é superpovoada de jumentos, devido à sua subutilização. Para o secretário adjunto de Agricultura do Rio Grande do Norte, José Simplício Holanda, a exportação do jumento para a China criaria uma nova cadeia econômica no Estado, ao mesmo tempo em que seria uma solução para os jumentos que têm sido escanteados por donos de terra que “fecham as porteiras para o animal”. Na sua avaliação, o jumento, hoje é rejeitado e está sem rumo, nas estradas, provocando acidentes.
Em julho do ano passado o secretário assinou um protocolo de intenções com a Empresa Shan Dong Dong E.E. Jiao Co. Ltda com a interveniência da Câmara Comercial e de Relações Econômicas e Culturais Brasil-China visando à produção do animal para produção, comercialização e industrialização da carne e derivados. Não houve desdobramentos até o momento. “Por enquanto, nada há de concreto, só a intenção”, adiantou Holanda.
Segundo o representante da empresa, Xiangquing Meng, a China abate 1,5 milhão de jegues por ano – 300 mil produzidos naquele país e o restante importado da Índia e da África. A disposição é de aumentar o abate em 550 mil/ano – totalizando 2 milhões de animais/ano – e eles avaliavam a capacidade do Nordeste brasileiro para fornecer 300 mil jumentos/ano.
De acordo com o protocolo, a empresa chinesa ficaria encarregada de dar assistência técnica com melhoria da genética e alimentação, enquanto o Governo do Rio Grande do Norte buscaria linhas de crédito para financiamento da nova atividade. A mão de obra local seria utilizada e o preço do animal, compatível com o mercado.
Agricultores
familiares seriam organizados e inseridos como produtores de jegues. O Rio Grande do Norte tem hoje cerca de 55 mil destes animais, criados de forma espontânea e aleatória, sem criadouros. Estima-se que cada animal representa em torno de quatro arrobas de carne. Se o negócio vingar e o preço acordado chegar a ser estimulante, José Simplício de Holanda acredita que ser viável a produção de 50 mil cabeças/ano (do total de 300 mil/ano). Ele defende que o preço da carne de jumento seja pelo menos a metade do preço da carne bovina.
O presidente da Associação Brasileira de Criadores de Jumento Nordestino, Fernando Viana, aprova a proposta desde que o preço seja justo. “Não existe preço de mercado hoje, o jumento nada vale”, frisa ele, que vê apenas duas saídas para que o jumento não seja visto como um entulho e tenha uma destinação na região: o abate para venda no mercado internacional – a exemplo do que propõe o protocolo – e o trabalho maciço dos governos para uso do jumento nos assentamentos de terra.
O interesse da China é pelo animal completo, que seria vendido abatido carne, vísceras, couro, cascos – tanto para consumo humano como para a indústria de cosméticos e de medicamentos.
A informação é a de que os chineses teriam visitado, no ano passado, todos os Estados nordestinos com a mesma proposta feita ao Rio Grande do Norte. Os governos do Ceará, Paraíba, Pernambuco e Bahia não foram procurados formalmente. (Colaborou Tiago Décimo - http://www.jt.com.br/seu-bolso/)

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