Escutas telefônicas mostram que o bicheiro e o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) conversavam com frequência. O parlamentar diz ser amigo do contraventor. Amizades heterodoxas de Carlinhos Cachoeira
Gravações telefônicas, autorizadas pela Justiça, mostram as relações de bicheiro preso pela Polícia Federal com parlamentares de Goiás.
Um amigo íntimo de Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, aparece com frequência nas conversas telefônicas gravadas mediante autorização da Justiça Federal, dentro da investigação que resultou na Operação Monte Carlo. O senador Demóstenes Torres (DEM-GO), líder do Democratas no Senado e uma das principais referências da oposição no Congresso, fez ligações e recebeu chamadas do bicheiro. As conversas evidenciam a amizade entre os dois. Algumas delas eram encerradas rapidamente — os diálogos continuavam em encontros posteriores, agendados nas ligações telefônicas.
Desde o início das investigações que resultaram na prisão de Cachoeira, ancoradas na quebra do sigilo telefônico do bicheiro, os diálogos com Demóstenes chamaram a atenção dos procuradores da República responsáveis pelo procedimento aberto. Por ter foro privilegiado, o senador — que foi promotor de Justiça antes de ocupar um cargo eletivo — não pode ser investigado pelos procuradores. Os diálogos mostram a relação entre Demóstenes e Cachoeira, mas são curtos e dão poucas pistas sobre a proximidade entre os dois. O Ministério Público Federal (MPF) em Goiás, que conduziu as investigações, já decidiu que as transcrições serão remetidas à Procuradoria-Geral da República (PGR), para a abertura de um novo procedimento de investigação.
Demóstenes não deve ser o único investigado. Outro líder, o do PTB na Câmara, Jovair Arantes (GO), aparece nos grampos autorizados pela Justiça. A interceptação telefônica detectou também conversas entre Cachoeira e o deputado federal Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO).
Um interlocutor recorrente, o ex-presidente da Câmara de Goiânia Wladmir Garcez, é acusado nas investigações de explorar diretamente jogos de azar e de servir de ponte entre Cachoeira e o corregedor-geral da Polícia Civil. Garcez, preso preventivamente na operação, é amigo do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), com quem trocou diversas mensagens, como revelou ontem o site da revista Época. Também neste caso, o ex-vereador fazia a ponte e enviava recados ao bicheiro. A missão de Garcez no grupo criminoso, conforme as investigações, era obter informações sigilosas. Cachoeira tinha tanta força no governo do Estado que conseguiu nomear "dezenas de pessoas" em cargos públicos, conforme as investigações.
PresenteDemóstenes e Jovair admitiram ao Correio ser amigos de Cachoeira. A assessoria de Perillo confirmou a relação de proximidade entre o governador e Wladmir, preso preventivamente na Operação Monte Carlo. O senador chegou a receber de presente do bicheiro um fogão e uma geladeira. "Casei-me em julho de 2011 e a mulher de Cachoeira deu de presente para minha mulher um fogão e uma geladeira. Você já rejeitou um presente de casamento?", argumentou Demóstenes ao Correio. O senador diz que a atual mulher de Cachoeira foi casada com seu primeiro-suplente, Wilder Pedro de Morais. Ele nega ter recebido dinheiro do bicheiro como doação de campanha.
O senador disse ainda desconhecer a atuação de Cachoeira como líder de uma organização que explora a jogatina. "Para mim, ele era dono de indústria farmacêutica. Quando ele atuava com jogo, caça-níquel era legal." Ao Correio, o líder do PTB na Câmara admitiu ter falado com Cachoeira sobre doação para campanha eleitoral. "Como existe a questão eleitoral, falamos de captação de recursos. Um candidato precisa de doação de campanha, isso é natural", diz Jovair Arantes. "Ele é uma pessoa amável, amigável. Você não vai me pegar numa ligação com traficante, pedófilo ou assassino." Já a assessoria de Marconi Perillo sustenta que a relação do governador com Wladmir Garcez é política. "As mensagens trocadas eram sobre política e campanhas." O Correio tentou ouvir o deputado Carlos Alberto Leréia, mas ele não deu retorno até o fechamento desta edição.
Na noite de quinta-feira, Cachoeira foi transferido para o presídio federal de segurança máxima de Mossoró (RN). Até a noite de ontem, o Tribunal Regional Federal (TRF) da 1ª Região não havia se pronunciado sobre o pedido de habeas corpus impetrado pelos advogados de defesa do bicheiro. *Correio Braziliense: Vinicius Sassine/Edson Luiz - Colaborou Erich Decat
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