Atualmente, é muito comum vermos pais assustados com os mais diversos comportamentos de seus filhos, principalmente nos que já passaram da idade de sair de casa, de alçar vôo solo, se auto-sustentar, mas lá permanecem e acham-se no direito de aí dormirem com seus atuais "ficantes", sem pensar nas consequências que isso provoca na mente dos pais que, mesmo tendo evoluido, tentando achar tudo muito normal, não foram assim educados e ficam sim, horrorizados, por não saberem onde isso vai dar. Por mais que alguns tentem e até mesmo digam que isso é uma bobagem, que não se importam, que há coisas mais importantes, os que realmente amam seus filhos e temem por seu futuro, certamente não pensam assim.
Pensam nos problemas de uma gravidez consumada com alguém que mal se conhece, nas DST, no uso excessivo de bebidas alcoólicas, na possibilidade do uso de drogas, no fato de demorarem cada vez mais para buscarem seu primeiro emprego e todas as milhares de preocupações diárias, hoje muito maiores do que nas gerações passadas, principalmente pelas mudanças sociais ocorridas pós década de sessenta, do Rock'n Roll e da liberação sexual, que continua ocorrendo com intensidade -e precocidade- cada vez maior. Apesar da maioria desses pais terem vivido exatamente nessa época, os que fizeram parte dos mais radicais, dos Hippies e da geração Paz e Amor como dizíamos, eram uma minoria e os que se iniciaram no uso de drogas, menos ainda.
Há muitos anos não me reunia com filhos e netos em um ambiente diferente do habitat de cada um como fiz nesta passagem de ano. Por sugestão de minha filha, nos reunimos em um hotel no litoral paulista para passarmos juntos o fim de ano em uma praia onde já havíamos estado juntos há exatamente dezoito anos, quando eles ainda eram adolescentes.
Acordar, passar o dia e dormir próximo dos filhos, genro, nora e netos é - para quem reside a mais de 1.000 quilômetros de distância de cada um - uma experiência inesquecível para todos. A carinha das crianças com a preguiça da manhã, o desjejum, a escolha dos programas do dia, a praia, as conversas amenas e sem nenhuma profundidade, são acontecimentos raros no dia a dia das pessoas.
Mas o que mais me trouxe alegrias foi a certeza de que, próximo dos sessenta, já posso me sentir realizado com relação aos filhos, genro, nora e netos que tenho. Penso não ser fácil, com o aumento da família, só visualizar coisas boas em todos os seus descendentes, mas é o que vejo em relação aos meus. Claro que, como em todas as famíllias as pessoas podem pensar, planejar, se vestir, ter ambições e se comportar um pouco diferente umas das outras, mas a existência de algumas características me fazem sentir muitíssimo abençoado, e feliz, com o que vejo em meus frutos.
Caráter, educação, honestidade, humildade, trabalho e respeito ao próximo, não são predicados fáceis de ser encontradas em uma única pessoa e o que me alegra mais é exatamente encontrar tudo isso, tanto nos filhos quanto no genro, na nora e no reconhecimento de que, por mais exigente que seus pais tenham sido em sua educação, isso produziu um resultado hoje aprovado por eles próprios, pois pode ser notado na maneira como educam seus filhos e isso certamente fará com que, no futuro, possam sentir o mesmo que sinto agora - orgulho de minha família.
Só quando os filhos já possuem seus próprios filhos podemos observar, mais detalhadamente, o resultado da educação que demos durante décadas e que agora também é transmitida aos seus. Muito mais do que possa aparentar, o que realmente importa é o que a pessoa é e o que transmite para seus descendentes, tanto geneticamente quanto em sua moldagem educacional.
Como o tronco de uma árvore, que olhando seus galhos admira seus frutos - e no chão suas sementes, olho à minha volta e só posso agradecer a Deus pelo quanto fui abençoado. De João Bosco Leal - http://www.joaoboscoleal.com.br%20*jornalista/, escritor, articulista político, produtor rural e palestrante sobre assuntos ligados ao agronegócio e conflitos agrários *Jornalista
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