Comida era descartada por supermercado no Bairro Cocó e iria para caminhão de lixo. Funcionário de supermercado diz que pessoas buscam comidas vencidas e descartadas
Fonte: G1**Foto: Reprodução
Na porta de um supermercado no Bairro Cocó, área nobre de Fortaleza, um grupo de pessoas procura alimentos dentro de um caminhão de lixo. A imagem foi filmada pelo motorista de aplicativo André Queiroz no último dia 28 de setembro e compartilhada nas redes sociais neste domingo (17). Nas imagens, homens e mulheres coletam comida descartada de um comércio.
"Pois é, muito triste. Existem cenas como essa sempre naquela região. Sempre vejo, mas não como essa daí. Por isso resolvi filmar. É bem impactante", afirmou André Queiroz.
Ao g1, um funcionário do supermercado que prefere não se identificar afirmou que a cena acontece todas as semanas, e crianças também buscam comida que seria jogada em um lixão.
"É isso aí que você vê no vídeo. Faz pena ver essas pessoas nessa situação humilhante. São idosos e até crianças, algumas vezes. As crianças chegam a entrar no caminhão. Os próprios lixeiros ficam sensibilizados. Alguns chegam até ajudar", disse.
Ainda de acordo com o funcionário, a cena passou a ser mais rotineira depois da pandemia. Antes, algumas pessoas faziam buscas no local por materiais recicláveis, como papelão, caixas e plásticos.
"Eram catadores que procuravam material para ser reciclado. Hoje o que vemos aqui é gente atrás de se alimentar. Eles pegam tudo. Hortaliças, mortadela, pão vencido e também as frutas. Uma cena de cortar o coração", lamenta o funcionário.
Problema afeta 19 milhões de brasileiros
Atualmente, 19 milhões de brasileiros acordam sem a certeza de que terão ao menos uma refeição para o dia. Dois anos atrás, eram 10 milhões. Com o crescimento da fome no país, houve registro de cenas como a ocorrida em Fortaleza.
No Ceará, cerca de 1 milhão de pessoas vive na extrema pobreza, com renda mensal de até R$ 89, conforme o Ministério da Cidadania.
Em Cuiabá, a distribuição de pedaços de ossos com retalhos de carne tem formado filas. O açougue, que distribui os ossos há dez anos, diz que isso acontecia antes apenas uma vez por semana e, agora, são três. A crise provocada pela pandemia só fez a fila crescer.
Açougue tem fila para doação de ossos em Cuiabá — Foto: TV Centro América
Pesquisadores que acompanham os desdobramentos sociais da pandemia afirmam que a dificuldade de milhões de brasileiros em se alimentar de maneira saudável vai ter impacto nas próximas gerações. A fome e a má alimentação podem gerar sérios problemas de saúde e desenvolvimento em crianças e adultos.