Lucas Azevedo/Do UOL, em Porto Alegre/Divulgação/ Polícia Federal
A operação Darknet identificou suspeitos de abuso e pedofilia em 18 Estados e no DF
A Polícia Federal fez nesta quarta-feira (15) uma operação que identificou e prendeu suspeitos de abuso, armazenamento e divulgação de imagens de crianças e adolescentes.
Foram cumpridos cem mandados de busca, de prisão e de condução coercitiva em 18 Estados e no Distrito Federal. Cinquenta e uma pesoas foram presas. Participaram da Operação Darknet mais de 500 policiais federais.
Os alvos da ação estavam localizados nos Estados do Amazonas, Amapá, Bahia, Ceará,Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Pará, Pernambuco, Piauí, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Rondônia, Santa Catarina, São Paulo, Mato Grosso do Sul e no Distrito Federal.
Durante as investigações, que duraram mais de um ano, foram trocados dados com Portugal, Itália, Colômbia, México e Venezuela.
Tida pela própria PF como um passo importante contra os crimes na internet, a Operação Darknet rastreou a chamada "Deep Web" (web profunda) - espécie de área da internet com acesso restrito, onde é difícil saber quem são os usuários. A arquitetura desse ambiente impossibilita a identificação do ponto de acesso (IP), ocultando o real usuário que usa a rede.
"Pela primeira vez, conseguimos investigar a internet profunda. Nas operações anteriores, já havíamos enfrentado criminosos que utilizam a internet, mas de outras formas. Evoluímos nas investigações de redes abertas, depois demos mais um passo e fomos investigar as redes criptografadas, técnica inovadora de utilização de redes ocultas, de pessoas que utilizam a internet profunda", explicou a delegada Diana Calazans Mann, do Serviço de Repressão a Crimes Cibernéticos da PF.
Foram identificados mais de 90 usuários que compartilham pornografia infantil. Pelo menos seis crianças foram resgatadas de situações de abuso ou do iminente estupro, em diversos locais do Brasil, conforme a PF.
"Não há produção de pornografia infantil sem abuso. Essas imagens, por mais que algumas pareçam algo banal, são subprodutos do abuso sexual. E essas redes mais sofisticadas, quanto mais fundo se vai, maior o número de abusadores que encontramos. Abusam, produzem as imagens e compartilham com seus contatos. Essa operação é um marco para a PF", salientou Diana.
Um dos casos que mais chocou os investigadores foi o de um pai que relatava que iria abusar da filha assim que ela nascesse. "Chamou a atenção a crueldade. Um pai com a esposa grávida se preparando e buscando meios para abusar da própria filha que ainda nem havia nascido. Buscando meios de fazer isso sem que ninguém percebesse. Conseguimos provas contundentes de que ele iria abusar da própria filha e, no momento da sua prisão, reconheceu na frente da esposa e de toda equipe. São coisas muito chocantes. Vimos o nível de crueldade de tudo o que aparecia nesses vídeos e fotografias, que chocam os cidadãos comuns e os policiais", afirmou superintendente da PF no Rio Grande do Sul Sandro Caron de Moraes.
Clandestino
"Não existe um perfil. O abusador o faz de forma muito velada e clandestina. Qualquer pessoa pode ser um perpetuador desse tipo de crime. Encontramos ao longo da investigação os mais variados perfis, pessoas de diferentes práticas e profissões", explicou a delegada Diana.
Nesta quarta, foram presos 51 suspeitos: um seminarista, um agente penitenciário, servidores públicos e militares. Estão sendo investigados policiais, servidores e empresários, "das mais diversas classes sociais", informa Moraes.