Por Nathalia Garcia | Folhapress
Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil
O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central reforçou o alerta sobre risco fiscal na ata da última reunião divulgada nesta terça-feira (12) e disse que uma piora adicional das expectativas de inflação pode prolongar a alta de juros.
O colegiado do BC destacou que a percepção dos agentes do mercado financeiro sobre o crescimento dos gastos públicos e a sustentabilidade do arcabouço fiscal vem tendo impactos relevantes sobre as expectativas e o câmbio.
Ao reforçar a necessidade de sustentabilidade das regras fiscais, o comitê falou em transparência, previsibilidade e compromisso. No comunicado já tinha defendido a "apresentação e execução" de medidas estruturais para o orçamento fiscal.
"Uma política fiscal crível, embasada em regras previsíveis e transparência em seus resultados, em conjunto com a persecução de estratégias fiscais que sinalizem e reforcem o compromisso com o arcabouço fiscal nos próximos anos são importantes elementos para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de riscos dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária", afirma o documento.
No debate, o Copom diz também ter enfatizado o desafio de estabilizar a dívida pública devido a aspectos mais estruturais do orçamento público.
Foi mencionado ainda que a redução de crescimento dos gastos, principalmente de forma mais estrutural, pode colaborar para o crescimento econômico no médio prazo por meio de seu impacto nas condições financeiras, no prêmio de risco [rentabilidade adicional cobrada pelos investidores no Brasil] e na melhor alocação de recursos.
O colegiado, por sua vez, diz incorporar em seus cenários uma desaceleração no ritmo de crescimento dos gastos públicos ao longo do tempo.
Na última quarta (6), o Copom decidiu, por unanimidade, intensificar o ritmo de alta de juros e elevou a taxa básica (Selic) em 0,5 ponto percentual, de 10,75% para 11,25% ao ano.
Na ata, o colegiado repetiu que o ambiente externo permanece "desafiador", apontando como principal fator de incerteza a possível mudança na política econômica nos Estados Unidos, logo após a vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais.
"Com relação aos Estados Unidos, permanece grande incerteza sobre o ritmo da desinflação e da desaceleração da atividade econômica", diz o colegiado.
"Em paralelo, a possibilidade de mudanças na condução da política econômica também traz adicional incerteza ao cenário, particularmente com possíveis estímulos fiscais, restrições na oferta de trabalho e introdução de tarifas à importação", acrescenta.
Ainda assim, o comitê continua trabalhando com um cenário de desaceleração gradual e ordenada da economia norte-americana.
O ciclo de alta de juros no Brasil teve início na reunião anterior, em setembro, quando o Copom optou por um movimento mais gradual, de elevação de 0,25 ponto percentual –primeiro aumento feito no terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
No cenário de referência do Copom, a projeção de inflação para este ano subiu de 4,3% para 4,6% –acima do teto da meta. Para 2025, houve alta de 3,7% para 3,9%. A estimativa para o 2º trimestre de 2026 –período em que o BC se propõe a atingir o alvo– situa-se em 3,6% (era 3,5% em setembro).
O colegiado volta a se reunir nos dias 10 e 11 de dezembro, na última rodada de encontros do ano.
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