Especialistas dizem que última reforma encarou essas pessoas como ‘folgadas’ e relatam que grupo não confia no sistema previdenciário
Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil
O cenário de desequilíbrio da Previdência brasileira, cujo deficit se aproxima de de R$ 400 bilhões para este ano, é agravado pela alta taxa de jovens nem-nem aliado ao fim do bônus demográfico.
Reportagem do jornal O Estado de S Paulo mostra que o país apresenta ainda baixo nível de contribuição frente à necessidade de pagamento dos benefícios. Atualmente, há três contribuintes para cada aposentado ou pensionista e o equilíbrio das contas demandaria ao menos sete trabalhadores formais ativos para cada beneficiário, de acordo com projeção feita com exclusividade para o Estadão/Broadcast.
“A relação previdenciária entre nem-nem e aposentadoria é a necessidade, ao longo do tempo, de esses jovens entrarem firmemente no mercado de trabalho e contribuírem com a previdência, já com algum atraso”, esclarece o joornal paulista Luís Eduardo Afonso, professor de Previdência Social da Universidade de São Paulo (USP). “Se não contribuem hoje, eles reduzem a receita significativamente, se aposentarão mais tarde, provavelmente com um benefício mais baixo, e estarão mais perto das condições de pobreza.”
De acordo com o Estadão, o grupo nem-nem representa 20% dos 49 milhões de brasileiros de 15 a 29 anos, totalizando 10,9 milhões de jovens. Essa parcela de inativos não só retarda o período para conseguir a própria aposentadoria no futuro como reduz a receita potencial para os que já estão aposentados no Regime Geral de Previdência Social (RGPS).
Para Jorge Boucinhas, professor da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a subocupação dos jovens agrava a queima do chamado bônus demográfico, fase de crescimento da população em idade ativa apta a trabalhar. “O maior potencial de arrecadação e contribuição está concentrado nessa faixa etária. O Brasil não soube capitalizar o bônus demográfico, e isso seria ideal para financiar um modelo atuarial como o nosso”, avalia.
Uma capitalização correta do recurso demográfico poderia trazer impactos positivos para essa geração, uma vez que jovens engajados no mercado de trabalho conseguiriam preparar uma gordura de caixa para o pagamento dos já aposentados e dos que ainda virão a se aposentar. Isso foi o que países como Japão e Coreia do Sul fizeram. “Os países asiáticos viveram o mesmo cenário de bônus demográfico entre as décadas de 1960 e 1980, e acabaram crescendo, projetando os coreanos, por exemplo, a atingirem uma renda per capita cinco vezes maior do que a brasileira”, argumenta Afonso, da USP.
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