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sexta-feira, 12 de abril de 2019

Pelo direito de ficar confuso vendo todo mundo defender o Bolsa Família

por Fernando Duarte / BN
Foto: Divulgação/ MDS
Confesso que eu desisti de entender a lógica de alguns milhares de eleitores brasileiros. O Bolsa Família talvez seja o grande exemplo de como é possível ter opiniões completamente distintas sobre um mesmo projeto apenas a partir de quem fala sobre ele. O programa que concede dinheiro para pessoas em condição de vulnerabilidade social foi gestado durante a administração de Fernando Henrique Cardoso, implantado efetivamente nos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e corria o risco, segundo a esquerda, de ser encerrado durante a gestão de Jair Bolsonaro. Eis que aconteceu exatamente o contrário.

Nesta quinta-feira (11), o atual presidente da República cumpriu uma promessa feita ainda durante a campanha eleitoral de 2018. Um benefício extra, uma espécie de 13º salário, para os beneficiários do programa social. No entanto, o próprio Bolsonaro, enquanto adversário de Lula e Dilma, foi crítico do Bolsa Família, conhecido pelos orbes da direita como “bolsa esmola”. Com o processo eleitoral, era imprescindível que um programa extremamente relevante fosse mantido – e Bolsonaro não só o fez, como também ampliou.

Agora temos duas situações bem inusitadas. Como ouvir os argumentos de quem criticava ferozmente a distribuição de recursos para pessoas carentes, que foram acusadas de investir na reprodução descontrolada da prole para garantir mais e mais dinheiro? Agora que a extrema direita, liberal na economia e conservadora nos costumes, se apropriou do programa, não acharei estranho ver esse mesmo grupo defender que Lula e Dilma se aproveitavam do Bolsa Família, mas que o projeto sempre foi imprescindível para reduzir a desigualdade social no Brasil.

Do outro lado da corda estão os esquerdistas que pregavam a teoria de conspiração de que a chegada de Bolsonaro ao Palácio do Planalto iria pôr fim a todo e qualquer direito social conquistado ao longo de décadas pelas benesses de autênticos estadistas (apenas Lula e Dilma, na ótica deles). O problema é que, com a garantia de uma parcela extra do benefício, como é que se ataca o governo de direita que comanda o país? São diversos os pontos passíveis de crítica no caso do atual morador do Alvorada, mas esse daí ficou bem mais frágil.

E o que dizer de quem votou no PT amedrontado pelo fantasma de perder o benefício? Agora que vai chegar esse “décimo-terceiro”, caberá ainda endossar que Bolsonaro é “do mal”? Acho difícil, não? Porque quem recebe tão pouco, uma migalha no universo do orçamento da União, sabe que qualquer dinheiro a mais que entrar será melhor que nada.

Enquanto os dois primeiros lados se digladiam para ver quem se apropria melhor do Bolsa Família, ficaremos todos comendo pipoca e esperando para ver se alguém se entende. Ou se nós entendemos o que está acontecendo.

Este texto integra o comentário desta sexta-feira (12) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para as rádios Excelsior, Irecê Líder FM, Clube FM e RB FM.

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