por Rafael Moro Martins | Folhapress
Uma operação realizada pela Polícia Federal nesta quinta-feira (22) para apreender mais de R$ 100 milhões em bens de uma das mais antigas quadrilhas de tráfico internacional de drogas do país é uma espécie de "laboratório" do trabalho que a corporação irá desenvolver a partir do ano que vem.
A investigação, batizada de Sem Saída, é a quarta fase da Operação Spectrum, que prendeu em julho de 2017 o traficante Luiz Carlos da Rocha, conhecido como Cabeça Branca.
Desde a primeira fase, em julho de 2017, a Operação Spectrum apreendeu o equivalente a R$ 500 milhões em patrimônio da organização criminosa comandada por Luiz Carlos da Rocha, o Cabeça Branca, informa a Polícia Federal. A lista inclui 16 fazendas com área equivalente a aproximadamente 40 mil hectares no Mato Grosso.
Trata-se, segundo a corporação, da maior operação da história "na desarticulação patrimonial de organização criminosa com atuação no tráfico internacional de drogas e lavagem de dinheiro".
É este caminho -com mais foco em lavagem de dinheiro e patrimônio de criminosos que em apreensões de drogas- que a Polícia Federal deverá seguir a partir de 2019, sob o comando de Maurício Valeixo, atual superintendente regional da corporação no Paraná e nomeado seu novo diretor-geral pelo futuro ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro.
"Já temos como meta a desarticulação patrimonial. Evidente que, com as mudanças, com o doutor [Sergio] Moro [no Ministério da Justiça e Segurança Pública], o doutor [Maurício] Valeixo [como diretor-geral da Polícia Federal], vamos fortalecer esse viés, com certeza", afirmou o delegado Elvis Aparecido Secco, coordenador da operação Spectrum.
Cerca de cem agentes cumprem hoje dois mandados de prisão preventiva, dois de prisão temporária e 14 de busca e apreensão em Curitiba, em cidades paranaenses como Brasnorte, Tapurah, Juara e Nova Maringá e em Cuiabá. Os mais de R$ 100 milhões que estão na mira dos policiais incluem fazendas que, juntas, somam mais de 11 mil hectares em área.
"Temos a intenção de que toda a PF tenha como padrão, como modelo, investigações como são feitas na Spectrum, direcionadas sempre à questão patrimonial", afirmou Secco. Nela, o processo de lavagem é similar ao que acontece no caso de investigações de corrupção, com quebra de sigilo bancário e fiscal, de acordo com o delegado.
"Ela é um modelo de operação a ser seguido porque iniciou com a lavagem de dinheiro e patrimônio e depois mirou o tráfico internacional de droga. A partir de 2019, vamos focar ainda mais a questão patrimonial com crime de tráfico de drogas antecedente", disse.
Trata-se, segundo Roberto Biasoli, outro delegado que participa da investigação, de um processo que vem sendo aprofundado desde o início da década, quando a Polícia Federal criou unidades de repressão a crimes financeiros com foco em lavagem de dinheiro.
"É um processo lento de mudança de cultura, de aprendizado. A toda a carga que você aprendeu de combate ao tráfico você precisa agregar um outro componente que é o componente patrimonial. Nos últimos anos, várias operações que vão acontecendo têm como foco o patrimônio", disse Biasoli.
Agora, com essa diretriz do futuro ministro, segundo ele, "várias outras delegacias especializadas em diversos outros crimes também podem começar a trabalhar [dessa forma], porque, para o crime que busca o enriquecimento, [investigar] a lavagem de dinheiro é o caminho de derrubar o criminoso".
Luiz Carlos da Rocha, preso em julho de 2017, era considerado pela PF o traficante internacional de drogas mais procurado da América do Sul. Atualmente, ele está detido num presídio federal -as autoridades não informam qual.
À época da prisão, policiais estimaram o patrimônio dele em R$ 100 milhões -valor que, hoje, sabe-se ser subestimado. "Em menos de dois anos, a movimentação financeira [da quadrilha] foi de US$ 138 milhões. Então, não chegamos nem a 10% do patrimônio dele", disse o delegado Secco.
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