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domingo, 1 de abril de 2018

O amor não tem idade

Psicólogo Flávio Melo Ribeiro
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As mudanças sociais que ocorreram na última década não foram apenas para os jovens, os integrantes da dita terceira idade passaram por uma alteração impensada até então. Além da longevidade, maior disposição e liberdade social, passaram por uma transformação amorosa sem precedente na história. O aumento das possibilidades de lazer em grupo, como viagens, bailes e redes sociais proporcionaram encontros amorosos que até poucas décadas eram condenados. 

Nos anos 90 do século XX já existiam uma população idosa que estava saindo e se envolvendo amorosamente, mas eram considerados “velhos” e “velhas” assanhado(a)s. Mas porque tinham essa avaliação pejorativa? Primeiramente porque a paixão ainda era visto como um privilégio dos jovens, tanto que existia a expressão “aquele velho está se comportando como um adolescente”, quando na realidade estava expressando um comportamento de paixão, e essa emoção não tem faixa etária. Existe um comportamento de apaixonado que é do ser humano e não uma exclusividade dos jovens. Também consideravam que a sexualidade estava anulada depois dos sessenta anos, então questionavam porque se relacionar depois dessa idade. E por fim vinha a comodidade dos filhos na faixa dos seus 40 anos de não precisar se preocupar com pai e mãe, é muito mais fácil cuidar quando eles ficam apenas em casa. 

Mas veio a longevidade com saúde, disposição, tempo disponível e solidão, e esse conjunto de elementos abriu espaço para os bailes que aproximaram essas pessoas. Aproximaram para conversar, fazer novas amizades, mas também aproximaram os corpos, o carinho e o calor de um corpo alheio que já não sentiam a alguns anos. Redescobriram a alegria e o desejo de voltar a se encontrar e esses encontros proporcionaram novas amizades e desejos mais íntimos. A vergonha deu lugar a aventura e a descoberta que a excitação não morreu, esta tinha apenas perdido espaço durante sua solidão. Nesse momento social a pessoa mais velha descobriu não apenas a possibilidade de voltar a se relacionar sexualmente, mas escapar da solidão. Os bailes impulsionaram outras possibilidades de encontros: viagens em grupo, encontros através das redes sociais e demais modalidades de acordo com as condições sociais de cada um. 

Antes os pais que tinham filhos e filhas adolescentes estavam atentos a vida sexual de seus rebentos e como poderiam orienta-los, agora também precisam olhar para os pais que não estão mais sozinhos, nem solitários. E depois dos setenta anos eles consideram que não tem mais tempo a perder, nem vão desperdiçar vários encontros para vivenciar a sexualidade, pois avaliam que não sabem como será o próximo ano quanto a saúde, disposição e se estarão vivos. Mas não são apenas os mais velhos que estão descobrindo essa nova vida, seus filhos próximos dos 50 anos também estão perdidos sem saber como lidar com seus pais. Pois várias respostas ficaram sem respostas: O que é um comportamento adequado? Quantos parceiros sua mãe ou pai podem ter? Como apresentar os novos companheiros dos seus pais quando esses duram apenas uns poucos meses e surgem outros? Serão necessários vários séculos para alcançar respostas adequadas e não preconceituosas. Pois a transformação está apenas começando. Por exemplo: o que as crianças que estão nascendo hoje em dia e já tem uma longevidade esperada de 150 anos, farão no dia dos namorados quando tiverem 130 anos e se sentirem saudáveis e com disposição. Eles também não terão parâmetro, pois eles também serão os primeiros a viver essas experiências com essa idade. Respostas que serão dadas talvez dentro de 300 anos. Pense nisso antes de emitir uma avaliação preconceituosa. 

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