Mesmo sem fechar uma delação, Duda espera, ao contar o que sabe, receber os benefícios dela
O marqueteiro Duda Mendonça (Foto: Victor Moriyama/Folhapress)
Há cerca de três semanas, o marqueteiro Duda Mendonça, com passagem rumorosa por campanhas do PT e do PMDB, foi chamado a depor na Polícia Federal em um inquérito que investiga irregularidades eleitorais. Duda falou e, na falta de chance de um desejado acordo formal de colaboração com o Ministério Público Federal, pediu que seu depoimento fosse considerado como uma colaboração. Em 2005, na CPI dos Correios, Duda confessou ter recebido no exterior US$ 5 milhões do PT, por seu trabalho na campanha presidencial de Lula em 2002. Foi absolvido pelo Supremo Tribunal Federal. Mas, agora, não quer correr o mesmo risco. Preferiu seguir os passos do ex-sócio e desafeto João Santana, cuja delação foi homologada na semana passada pelo ministro Edson Fachin. Desta vez, no entanto, entregou o PMDB, não o PT. Mesmo sem fechar uma delação, Duda espera, ao contar o que sabe, receber os benefícios dela – cabe ao Supremo Tribunal Federal decidir se ele merece alguma leniência.
Duda confirmou aos investigadores que recebeu da Odebrecht cerca de R$ 6 milhões, em dinheiro vivo, para bancar seu trabalho na campanha de Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), ao governo de São Paulo em 2014, pelo PMDB. O dinheiro veio em parcelas. Duda disse à PF que o próprio Skaf o avisou, em uma conversa pessoal, que a Odebrecht “resolveria” – ou seja, pagaria a dívida do PMDB por seus serviços. Duda revelou, ainda, que foi pressionado pelo PMDB a contratar, na campanha, uma produtora da família do deputado Baleia Rossi, líder do partido na Câmara.
O marqueteiro não esclareceu se alguém do PMDB, além de Skaf, o obrigou, na prática, a recorrer aos serviços da produtora ligada ao deputado. Duda preferia trabalhar com outra produtora, de sua confiança. Ao aquiescer ao pedido do PMDB, o marqueteiro exigiu que alguém bancasse integralmente as despesas com a produtora. Skaf, segundo Duda, disse que a Odebrecht também resolveria essa. O marqueteiro contratou a produtora da família do líder do PMDB e repassou R$ 4 milhões às contas dela. Em seguida, disse Duda à PF, a Odebrecht cobriu seus gastos. Também em dinheiro vivo, também em parcelas entregues pessoalmente, também ilegalmente. Assim, Duda admitiu à polícia ter recebido cerca de R$ 10 milhões, em cash, da Odebrecht. Como Baleia Rossi tem foro privilegiado, o inquérito segue no Supremo. Em nota, a assessoria de Skaf afirma que todas as doações recebidas por sua campanha “estão devidamente registradas na Justiça Eleitoral, que aprovou sua prestação de contas sem qualquer reparo”. Procurado, Baleia Rossi afirmou que nunca esteve com Duda Mendonça e que Skaf tinha autonomia para definir sua equipe de comunicação. O sócio da Ilha Produção, Paulo Luciano Rossi, informou que foi convidado pelo próprio Skaf para fazer sua pré-
campanha e que não conhece nem teve contato com representantes da Odebrecht.
Outrora juntos no marketing político, Duda e Santana agora se tornaram delatores da Operação Lava Jato. Duda, o criador, segue os passos de João, a criatura. João Santana e sua mulher, Mônica Moura, resolveram sua delação na semana passada. Réu em três ações penais, Santana é acusado pela Lava Jato de ter recebido mais de R$ 20 milhões do caixa dois da Odebrecht, tanto em espécie no Brasil como em transferências no exterior. Também recebeu em uma de suas contas na Suíça US$ 4,5 milhões do lobista Zwi Scornicki, que atuava na Petrobras. Em sua colaboração, Santana e Mônica Moura revelam que os pagamentos eram referentes à prestação de serviços para a campanha de Dilma Rousseff em 2014 – informação que reforça o pedido de cassação da chapa Dilma-Temer, feito pelo Ministério Público no processo que corre no Tribunal Superior Eleitoral. O marqueteiro também envolve a ex-presidente Dilma diretamente nas irregularidades.
Pobres dos sócios no petrolão. PT e PMDB agora veem o submundo de suas campanhas eleitorais ser exposto sem dó pelos marqueteiros que lhes abocanharam milhões em serviços, pagos com dinheiro desviado da Petrobras. Em seu início, a Operação Lava Jato avançou nas investigações em descobrir a origem do dinheiro desviado, na comprovação da existência de um cartel de empreiteiras e nos pagamentos da corrupção. Agora, as investigações avançam sobre as campanhas eleitorais, notadamente as de PT e PMDB. Será possível saber mais sobre como o petrolão foi importante para bancar, de forma ilegal, os estratosféricos gastos em campanhas eleitorais dos interessados em se manter em cargos que garantissem o comando do esquema.
Não se sabe se haverá tempo de a delação de Duda ser examinada no julgamento que corre no TSE. O empreiteiro Marcelo Odebrecht confirmou que Temer esteve no jantar em que foi acertada uma contribuição de R$ 10 milhões para o PMDB – parte disso foram os R$ 6 milhões para Skaf. Por enquanto, sabe-se que o julgamento só deverá ser retomado em maio. Na manhã de terça-feira, dia 4, logo na primeira sessão, o julgamento foi interrompido. Por unanimidade, a Corte concordou em conceder mais prazo para que acusação e defesa fizessem suas alegações finais. Além disso, o vice-procurador-
geral eleitoral, Nicolao Dino, anunciou que, como o Supremo aceitara as delações de João Santana e Mônica Moura, eles deveriam ser ouvidos. “Não estamos aqui para ouvir Adão e Eva e possivelmente a serpente”, afirmou o ministro Herman Benjamin, relator das quatro ações que pedem a cassação da chapa. O TSE já ouviu 58 depoimentos nesse processo. As novas testemunhas podem ser necessárias, mas a procrastinação favorece o governo, que procura ganhar tempo para que o mandato de Temer seja preservado.
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