Angela era encarregada das transações em euros e dólares no exterior.
Praticamente desconhecida na antiga cúpula da Odebrecht, a assistente administrativa Angela Palmeira Ferreira, 61 anos, é a única mulher do grupo de 77 funcionários e ex-funcionários da empresa que firmou acordo de delação com os procuradores da Lava Jato, de acordo com o jornal Folha.
A reportagem explica que a baiana e há mais de 30 anos na companhia, Angela dividia com a colega Maria Lúcia Tavares a logística das movimentações ilícitas realizadas pelo setor de operações estruturadas, a área de pagamentos de propina da empreiteira. O setor movimentou, de 2006 a 2014, US$ 3,39 bilhões.
Enquanto Maria Lúcia cuidava das entregas em moeda nacional, Angela era encarregada das transações em euros e dólares no exterior. Quando a primeira foi presa na 23ª fase da Lava Jato, a "Acarajé", deflagrada em fevereiro de 2016, a segunda sabia que seu destino seria o mesmo.
Dezessete dias depois, era Angela quem fazia o caminho de Salvador, onde vive ainda hoje, para a sede da Polícia Federal em Curitiba, local em que ficam detidos os investigados no momento em que são presos pela Lava Jato. Apesar do curto espaço de tempo que separou a prisão das duas, o tratamento que Angela recebeu da empresa foi diferente do endereçado à colega.
Quando presa, Maria Lúcia foi orientada pelos advogados da Odebrecht a afirmar que o "acarajé" citado nas planilhas do setor de propina eram quitutes "que as baianas em Salvador vendem em pequenas porções para aperitivos".
Nesta versão, cabia a ela providenciar as entregas nos locais indicados por Hilberto Mascarenhas, seu chefe na empresa à época e hoje delator. A PF, porém, já tinha provas de que o termo se referia a pagamentos ilícitos ou não declarados à Receita Federal.
Sentindo-se abandonada pela companhia, que a induziu a reproduzir a versão inverossímil, Maria Lúcia seguiu os conselhos da doleira Nelma Kodama, com quem dividia cela. Negociou sua delação sem o controle e conhecimento da empreiteira.
Com a deflagração da Lava Jato em março de 2014 e a transferência da área de pagamentos ilícitos para a República Dominicana, Angela foi deslocada em agosto de 2015 para a Odebrecht Realizações, também em Salvador.
Angela responde pelos crimes de corrupção ativa e passiva e lavagem de dinheiro. O processo está suspenso no momento, esperando manifestação do Ministério Público sobre os acordos de delação que foram homologados no início deste ano.
Na tratativa com os procuradores ficou acertado que ela cumprirá um ano em regime semiaberto e três em regime aberto. Ao contrário dos demais executivos, a assistente vive em uma pequena casa no subúrbio de Salvador. Bocão News
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