por Estadão Conteúdo**Foto: Beto Barata / PR
A cassação do mandato do ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, já era tratada como "morte anunciada" pelos interlocutores do presidente Michel Temer e aguardada pelo Palácio do Planalto. Temer passou o dia cumprindo agendas de trabalho e reforçou o discurso do governo de que a decisão era de outro poder: a Câmara. Temer saiu relativamente cedo do Planalto hoje e, diferente de outros momentos políticos, não reuniu sua tropa mais próxima para jantar ou para acompanhar o andamento dos trabalhos no Congresso. O ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, um dos mais próximos a Temer estava cumprindo agenda em São Paulo durante a votação. Já o segundo ministro palaciano, Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo) também não esteve no Jaburu à noite. Interlocutores do presidente minimizaram a possibilidade de uma delação premiada de Cunha e ironizaram a declaração do peemedebista de que escreverá um livro contando como aconteceu o processo de impeachment. Para um interlocutor, o livro de Cunha "vai ser interessante". Já outra fonte do Planalto brincou que se Cunha for falar "tudo" será uma série de livros. "Serão muitos volumes". Mesmo que haja ameaças de Cunha a integrantes do governo, na avaliação de interlocutores de Temer, não haveria o que o Planalto fazer para impedir a sua cassação, assim como é "imponderável" o comportamento de Cunha daqui pra frente. O Planalto optou por se afastar de Cunha avaliando que qualquer movimento seu a favor do parlamentar só serviria para expor o governo e colocá-lo contra a opinião pública. "É obvio que o governo está atento, mas não há o que fazer. Se há estas ameaças, são coisas imponderáveis", comentou um assessor. "Pelo menos 35 deputados se inscreveram para falar contra Cunha. A opinião pública está contra ele. Sendo assim, ninguém quer colocar sua digital em uma morte anunciada", acrescentou outro auxiliar palaciano. Apesar de tentar demonstrar distanciamento do processo, Temer passou boa parte da segunda-feira ao lado do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que conduziu o processo de cassação no plenário. Maia chegou a suspender a sessão por uma hora, causando apreensão entre opositores de Cunha, que temiam que a decisão faria parte de mais uma manobra do peemedebista. Temer participou de cerimônia de ratificação do Acordo de Paris pela manhã no Planalto e depois foi à posse da ministra Carmen Lúcia no STF. Nos dois casos, estava acompanhado de Maia. Após a cerimônia no Planalto, inclusive, os dois subiram juntos para o gabinete, onde conversaram. Perguntado sobre o processo de Cunha, ao final da solenidade, Temer esquivou-se e repassou a responsabilidade justamente ao presidente da Câmara. "Perguntem ao Maia", respondeu aos jornalistas. No domingo (11), no entanto, o ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, e o secretário do Programa de Parcerias e Investimentos, Moreira Franco, que é sogro de Rodrigo Maia, participaram de um jantar na casa do presidente da Câmara. Todos negam que a cassação de Cunha tenha sido tratada. Mais cedo, Moreira Franco e Geddel estiveram no Palácio do Jaburu, onde se reuniram com Temer. No Planalto, a informação é de que Temer não fala com Cunha "há muito tempo". A orientação do governo era que ministros evitassem fazer comentários sobre o episódio para tentar manter o assunto afastado. (Tânia Monteiro e Carla Araújo)
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