Conforme os tumores crescem de forma desigual, no interior deles surgem regiões compostas por células de baixo consumo de oxigênio. Tais células são resistentes aos tratamentos mais comuns contra o câncer – quimioterapia e radioterapia. Com isso em mente, pesquisadores nos EUA tiveram a ideia de enviar uma bactéria chamada de Clostridium novyi, a essas áreas. Por se tratar de um microrganismo anaeróbico, ele não precisa de ambientes ricos em oxigênio para se multiplicar.
Apesar de considerada ótima, a ideia ainda apresentava um problema relevante: a bactéria possuía um gene que faz com que ela produza uma toxina bastante agressiva aos humanos e animais. Logo, para utilizá-la, precisaram adaptar a espécie, “apagando” parte de seu DNA. Dessa forma, ela se transformou em uma bactéria transgênica, segundo informações do biólogo Paulo Alex para o Diário de Biologia.
Após a modificação, tumores de roedores – que apresentavam uma forma artificial e agressiva de câncer cerebral – foram infectados com as bactérias. Depois, fizeram o mesmo com cães que tinham desenvolvido naturalmente a doença, e por fim, com uma paciente de 53 anos, cujo câncer muscular já havia se espalhado pelo organismo (metástase). Uma vez no organismo, a bactéria foi capaz de atacar as células cancerosas e se alimentar de pedaços dos tumores, evitando danos aos tecidos saudáveis da paciente.
Os resultados dobraram a expectativa de vida dos ratos e eliminou ou reduziu o tumor em 40% dos cães. Já no caso da paciente, o tumor que se localizava em seu ombro foi praticamente destruído, não apresentando células que pudessem recomeçar o processo.
Apesar dos resultados encorajadores, a pesquisa ainda se encontra na primeira fase de testes clínicos, que tem o objetivo verificar a segurança do procedimento. Os cientistas relataram que as três espécies de cobaias apresentaram efeitos colaterais semelhantes a uma infecção normal, incluindo inchaço, dor e febre. Dessa forma, quando as bactérias concluíram o trabalho, a infecção precisou ser controlada com antibióticos tradicionais.
Conforme lembrado pelo biólogo, é relevante considerar que os tumores são heterogêneos, e isso explica por que uma única estratégia as vezes não é suficiente para destruí-los completamente. O método das bactérias poderia ser uma arma para reduzir o tamanho deles, podendo ser combinado a outras terapias para maior eficácia. Além disso, ainda é cedo para afirmar quais tipos de tumores seriam mais vulneráveis a essa ação.
Os resultados preliminares foram publicados recentemente no periódico Science Traslational Medicine. [ Diário de Biologia ] [ Fotos: Reprodução / Diário de Biologia ]
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