O terrorismo islamista não fez nada mais do que acabar de começar - é o que considera o procurador espanhol Javier Zaragoza, especialista em jihadismo, que teme particularmente uma fusão entre os grupos Al-Qaeda e Estado Islâmico.
"O terrorismo jihadista acaba de começar, porque, embora tenha começado há muitos anos, agora adquiriu uma virulência especial. É um fenômeno que está em contínua expansão e possivelmente tenham que passar muitos anos" para que esta tendência seja revertida, declarou Zaragoza à AFP.
Ele é o promotor encarregado do caso dos atentados de 11 de março de 2004 em Madri, os mais mortíferos da Europa, com 191 mortos.
Essa progressão é consequência principalmente da expansão do grupo Estado Islâmico, explica o promotor, chefe da Audiência Nacional, principal instância penal espanhola.
Por ora, o grupo Estado Islâmico e a Al-Qaeda, nascida no final dos anos 1190, "utilizam caminhos diferentes e é possível que sejam até complementares. Temo muito que mais cedo ou mais tarde se produza uma estratégia de associação entre os dois grupos", ressalta o promotor de justiça, que supervisa os casos de terroristas islamistas na Espanha, onde estão detidos cerca de 60 supostos jihadistas.
"A estratégia da Al-Qaeda é cometer ações nos territórios e nos países ocidentais com células dormentes, lobos solitários, mas aqui há uma outro estratégia perigosa a médio e longo prazo, que é a do Estado Islâmico", explica.
O Estado Islâmico, fundado por uma antiga facção da Al-Qaeda no Iraque, foi formada com o controle de territórios no Iraque e na Síria, e tem de 40 a 50 mil combatentes, assim como uma estrutura de poder própria, ressalta o promotor.
O financiamento também evoluiu desde o início da Al-Qaeda.
"O financiamento é feito pelos próprios recursos econômicos e energéticos que têm nestes lugares" e pode se estender caso as conquistas ultrapassem o Iraque e a Síria, especialmente na Líbia, que "é um país produtor de petróleo, e dá a possibilidade para a organização terrorista se financiar sem nenhum problema".
"É preciso evitar o avanço para que antigos Estados se tornem Estados terroristas. Se isso ocorrer, será confirmada minha teoria" sobre a emergência de um problema a longo prazo, insiste Zaragoza, de 59 anos.
- 'Impressionante' estratégia mediática -
Na Espanha, estima-se que uma centena de islamistas muito radicais tenha partido para as zonas de guerra, dentre os quais trinta continuariam lutando, outros trinta teriam morrido e pelo menos vinte retornaram - segundo Zaragoza.
Todos eles estão sendo cercados e vigiados de perto para impedir que doutrinem presos comuns, como foi o caso dos autores dos atentados de Paris que deixaram 17 mortos entre 7 e 9 de janeiro.
Os que retornam, que poderiam ser cada vez mais numerosos por conta da expansão do EI, são irrecuperáveis, para o promotor.
"Têm um preparo psicológico enorme. Foram muito radicalizados e muito doutrinados. Estamos falando de indivíduos impossíveis de recuperar para uma vida em sociedade", diz Zaragoza, chamando atenção para as técnicas de captação, incluídas as usadas na internet, são similares às utilizadas pelas seitas.
A internet "é difícil de controlar. Muito mais difícil" do que há 20 anos, disse o promotor.
"Agora não há tanto ruído" na internet, como ocorria logo antes dos atentados do 11 de setembro de 2001.
"Existem mais formas de se comunicar. A estratégia mediática é espetacular. Isso gera um efeito de chamada espetacular". Além disso, a internet "é utilizada para absolutamente tudo, para financiar atividades terroristas, de propaganda, de proselitismo, para aprender técnicas de uso de armas e explosivos", explica o especialista.
Sobretudo, estas ações têm um "impacto social enorme".
Ainda que outros fenômenos deixem mais mortos, como acidentes de trânsito, estas ações "ainda que sejam pontuais ou isoladas" como a de Copenhague, "gera um temor e uma insegurança muito grande".
"Com o terrorismo jihadista, a sensação de ameaça é muito forte", afirma, ainda que insista na necessidade de respeitar "as regras do jogo democrático" para combatê-lo e evitar "situações de apartheid" vividas em alguns subúrbios franceses. Foto: UOL - Fonte: UOL
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