A seca se espalhou pelo Brasil: 45,8 milhões de pessoas sofrem com a falta de água, o que significa 20% do país, segundo levantamento feito pelo Jornal O Globo com base em informações de comitês de bacias hidrográficas e governos estaduais. No total, 936 municípios estão em situação de emergência. Cinco das maiores cidades brasileiras foram atingidas pela estiagem. Na lista, estão Belo Horizonte, Campinas e Recife, além de Rio de Janeiro e São Paulo, que já viram seus reservatórios alcançarem o volume morto. O sistema Cantareira, o maior de São Paulo, pode ficar sem água em julho, caso a relação entre o número de chuvas e o consumo continue o mesmo, segundo o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais. A Situação mais crítica, contudo, está no Nordeste, onde a seca é um problema crônico. No Rio Grande do Norte, por exemplo, os municípios de Acari e Currais novos esperam que a água acabe nos próximos dois meses: o reservatório que os abastece está em 2%. Em todo o estado, os reservatórios pequenos e médios estão zerados e os grandes operam a 20% da capacidade. A crise tem feito os governantes declararem situação de emergência e procurar o governo federal. Alguns têm apelado até para a boa vontade dos céus. Nesse domingo, em comemoração ao seus 52 anos e aos 461 da cidade de São Paulo, o prefeito Fernando Haddad (PT) disse que o melhor presente seria chuva no Sistema Cantareira. Os céus, contudo, não atenderam: o nível de água voltou a cair e o Sistema opera a 5,1% da capacidade. “Sinceramente, não há o que fazer para substituir de imediato o Cantareira. É um sistema muito grande que tem participação significativa no fornecimento de água para São Paulo”, avaliou o geólogo Pedro Luiz Côrtes, professor da área ambiental da Universidade de São Paulo (USP). Em um ano de crise, o nível total de água no estado baixou em 74%, segundo a companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). Haddad afirmou que vai se reunir com o secretário Estadual de Recursos Hídricos e os prefeitos da região metropolitana para que o governo do Estado, comandado por Geraldo Alckmin, oriente os municípios sobre a melhor forma de passar pela crise. Segundo ele, a reunião foi marcada para a próxima quarta. O governo federal traçou cenários sobre a crise hídrica em São Paulo. Caso a previsão de chuvas não se confirme e não haja medidas mais drásticas do Estado, há possibilidade de as represas secarem em quatro ou cinco meses. Em outro cenário, menos pessimista, o governo projetou a possibilidade de um colapso em setembro. Geraldo Alckmin (PSDB), já discute novo aumento na tarifa de água a partir de abril, quatro meses após o último reajuste. Outra hipótese é o endurecimento da cobrança de sobretaxa para quem gastar mais água. Além disso, o governo já considera utilizar a terceira cota do volume morto do Cantareira. A situação também é alarmante no Rio. O governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), terá uma reunião com a presidente Dilma Rousseff na próxima quarta, em Brasília, para discutir a crise. Pezão quer ações para o reflorestamento das margens do rio Paraíba do Sul, que abastece a região metropolitana do Rio, e obras de saneamento em municípios da Baixada Fluminense. Na semana passada, o nível do reservatório de Paraibuna, o maior dos quatro que abastecem o Estado do Rio, chegou a zero, o que tornou necessário o uso do volume morto. Por conta da seca, a geração de energia nas hidrelétricas e a produção industrial também podem ser comprometidas. A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, Pediu que a população economize água e luz, após um encontro com outros seis ministros para discutir o problema. Nordeste A cada dez cidades que estão em situação de emergência por falta de água, nove estão no Nordeste. Os dados da Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil mostram que 15,8 milhões de nordestinos têm sido afetados por aquela que é a pior seca em 50 anos, segundo a Organização Meteorológica mundial. O problema começou em 2012 na região e não tem previsão de melhora. A expectativa do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) é de queda na média histórica de chuvas até abril. A situação é mais dramática no Ceará, onde apenas oito cidades de um total de 184 não estão em situação de emergência e 5,5 milhões são afetados pelo problema. Cerca de 130 açudes operam com menos de 10% da capacidade. Apesar da situação crítica, segundo relatório do Sistema Nacional de Informações do Ministério das Cidades, divulgado em 2013, o país inteiro desperdiça 37% da água tratada por vazamentos nos canos, defeitos, ligações clandestinas conhecidas como "gatos" e mau uso. O gasto por pessoa é alto: são 166,4 litros por dia, enquanto o recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) é de 110 litros. Por desperdício, uso inapropriado, falta de chuvas e de planejamento, a situação tem se agravado. Nas 500 cidades abastecidas pelo Rio São Francisco, nos estados de Pernambuco, Bahia, Sergipe, Alagoas Minas Gerais, existem disputas para o uso do líquido na agricultura, na geração de energia e para o consumo humano. No Rio Grande do Norte, a população, nessas cidades, tem sido orientada a criar poços artesianos. Já a irrigação está sendo feita à noite, para evitar perda de água por evaporação. (O Globo)
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