Terminada a eleição, muitos analistas se perguntam quem ganhou e quem perdeu, não apenas nas urnas (o que é mais evidente), mas politicamente. Aécio saiu com 51 milhões de votos, mas sem o governo de Minas Gerais – ganhou ou perdeu? Lula foi peça-chave na reta final de campanha de Dilma, afinal reeleita, embora o PT tenha encolhido na Câmara Federal e enfrentado sua pior derrota em São Paulo – Lula ganhou ou perdeu?
É certo que o que muitos chamam de “lulismo” mostrou sua força em 2014. O que é o lulismo? Veja a definição do professor da USP André Singer, no livro “Os sentidos do lulismo”:
“(o lulismo é) a relação estabelecida por Lula com os mais pobres, os quais, beneficiados por um conjunto de políticas voltadas para melhorar as suas condições de vida, retribuíram na forma de apoio maciço e, em algumas regiões, fervoroso da eleição de 2006 em diante”.
A base lulista é o Nordeste e o eleitorado de menor renda, ambos beneficiados em maior grau do que outros setores por políticas econômico-sociais como a política de valorização do salário mínimo, expansão do crédito, Bolsa Família e tudo o mais.
No Nordeste Dilma teve 71% dos votos, índice semelhante ao obtido em 2010. Segundo o último Ibope, a intenção de votos entre os eleitores de menor renda (até dois salários mínimos) foi próxima à obtida em 2010, cerca de 60% para Dilma nessa faixa.
Ou seja: ao manter os votos no Nordeste e predominar com ampla vantagem no eleitorado de menor renda, Dilma segurou ao seu lado a base eleitoral do “lulismo”. Contou com a ajuda direta do próprio Lula, evidentemente, cuja presença na campanha na reta final do segundo turno foi fundamental para mobilizar este eleitorado, por exemplo em Pernambuco, onde havia perdido terreno para Marina e no segundo turno recuperou-se.
No entanto, o PT encolheu. Foi de 88 deputados federais para 70. Perdeu em São Paulo e no seu berço político, o ABC; em Pernambuco não fez um deputado federal. Segundo o Ibope, 46% dos eleitores tem uma imagem desfavorável do partido (mesmo índice do PSDB, diga-se, o que expressa a rejeição geral aos partidos políticos, sentimento prevalecente que a eleição aparentemente não alterou).
Não só isso. Coube a Lula o papel no segundo turno de dar o tom à campanha de Dilma na reta final. Foi Lula quem primeiro citou, em discurso no Pará, a história do bafômetro de Aécio – história retomada pela própria candidata no dia seguinte em debate no SBT, tendo ela, Dilma, passado mal diante de telas de TV, o que levou durante alguns dias a campanha para o terreno das envenenadas acusações pessoais, o que prejudicou o tucano. Seja como for, Lula fez um tipo de participação que coloca um ruído no diálogo entre as forças políticas que terá de vir pela frente, ainda mais com o espectro das denúncias sobre a Petrobrás, nas quais ele, Lula, figura como alvo preferencial, talvez até mais do que Dilma. Neste sentido, a vitória pode cobrar seu preço, embora seja sempre melhor enfrentar tormentas no governo do que fora dele.
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Do Yahoo - Por Rogério Jordão | Rogério Jordão
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