João Bosco Leal*
Sou de um tempo em que, diferente do que ocorre atualmente, os pais realmente educavam seus filhos. Tenho certeza de que foram os pequenos detalhes de que hoje me lembro, que me fizeram ser quem hoje sou e também que me deram a orientação de como educar os filhos que tive.
Ninguém chamava os mais velhos por "você", ou ousava estar fora da mesa das refeições quando o pai se sentava. O horário para ir para a cama era inflexível e interromper uma conversa ou chegar perto da sala onde dois ou mais adultos conversavam era impensável, pois era surra na certa.
Entre os cinco irmãos, por diversas vezes apanhamos todos, para não denunciar aquele que realmente tinha motivos para receber o castigo, porque se alguém denunciasse, apanhava também para aprender a não denunciar o irmão.
Lembro-me perfeitamente de uma surra coletiva porque um de nós havia retirado os botões de uma capa de chuva de minha mãe para utilizá-los nos jogos de botão. Era uma capa importada da Itália, de nylon, que ela havia ganhado de meu pai há pouquíssimos dias e crianças, quem retirou os botões o fez com uma tesoura, deixando um buraco no local onde havia cada um deles, inutilizando assim a capa.
A proibição de denunciar um irmão era levada tão a sério que hoje, sinceramente, nem lembro quem retirou o jogo de botões da capa, mas sim que os três meninos apanharam por causa disso. Quando fazíamos algo errado éramos chamados para apanhar com os pais já com a cinta ou a sandália na mão e ninguém corria de uma surra, pois se fizesse isso, certamente apanharia mais.
Na conjuntura atual, onde normalmente o casal trabalha fora, os pais saem de casa cedo e deixam os filhos aos cuidados de uma funcionária que, sabe-se lá como foi educada, se foi, ou o que pensa sobre educação. Voltam já à noite e, assim, não acompanharam o que, quando, quanto e como seus filhos comeram, estudaram, viram na televisão ou tiveram acesso aos jogos eletrônicos, ou seja, não os educam.
Além disso, psicólogos, terapeutas e ultimamente até o governo resolveram interferir na educação dos filhos de um casal, instituindo até leis, como a que ficou conhecida como a "lei da palmada", o que imagino ser um risco para o futuro da sociedade como um todo.
O resultado é o que vemos diariamente na imprensa: filhos desrespeitando, gritando e até agredindo seus pais e professores, fazendo exigências, só aceitando o que os pais querem em troca de algo, o aumento exponencial do uso de drogas, gravidez infantil e muitas outras coisas impensáveis para quem possuiu pais realmente interessados em educa-los e não simplesmente em negociar sua tranquilidade.
Meus pais puderam me impor uma educação que entendiam ser a melhor possível e, assim, aprendi a respeitar os mais velhos, começando por chama-los de senhor e senhora, a base da estrutura social e de respeito aos mais velhos.
Eu não faria com meus filhos experiências cujos resultados só seriam observados depois de aproximadamente trinta ou quarenta anos, quando estes já teriam os próprios filhos, e os reparos que se fizessem necessários já não fossem possíveis.
Agradeço por ter nascido em outros tempos, quando meus pais me impuseram uma educação que resultou em honestidade, caráter, dignidade e hombridade.
*Jornalista, escritor e empresário
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