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terça-feira, 16 de setembro de 2014

Médico que só mexe os olhos é professor de faculdade

Foto: arquivo/pessoal
Um médico que só consegue mexer os olhos reencontrou a felicidade ao ser convidado para dar aulas na UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora), localizada na cidade de Juiz de Fora a 278 km de Belo Horizonte, MG.
Uma verdadeira história de superação.
O médico e professor Vanderlei Corradini Lima, 53 anos, é portador da esclerose lateral amiotrófica (ELA), que ficou mundialmente conhecida depois do desafio do balde de gelo.

Ele foi diagnosticado com a doença em 2010.
"A doença me tirou muita coisa, não falo, não ando, não como, não saio de cima de uma cama, mas não tirou minha capacidade de servir e enfim ser feliz", descreveu Lima ao UOL em entrevista concedida por e-mail. 

Hoje ele vive com a mulher e dois filhos na cidade de São Sebastião do Paraíso, cidade no sul de Minas Gerais e distante 400 km da capital mineira.

Bem humorado, ele enviou a foto acima ao UOL, para ilustrar a reportagem sobre sua experiência como professor no curso de medicina da UFJF

Professor
Há três semestres, Vanderlei atua como professor convidado, no curso de medicina da universidade, e no qual interage a distância com alunos do 2º período na disciplina fisiologia médica, que aborda tópicos de neurofisiologia.

Ele usa um computador com um programa e um leitor infravermelho que captam os movimentos dos globos oculares, que não foram afetados pela doença.

Por meio de um mouse e um teclado virtual ele consegue interagir com a máquina e utilizá-la normalmente.

Vanderlei participa dos fóruns de discussão online promovidos por meio da plataforma, tratando de aspectos práticos e psicobiossociais dos casos discutidos e responde a questionamentos feitos pelos universitários do curso.

"Há uma página específica no site da universidade com uma plataforma virtual de ensino a distância. Cada semana um novo caso clínico é discutido entre professores, monitores e alunos", disse referindo-se à plataforma utilizada para ensino a distância (Moodle).

Convite
Responsável pelo convite feito ao médico, a professora Carla Malaguti, que ministra aulas de fisiologia no curso de medicina da UFJF, disse ter visto que Lima postava mensagens nas redes sociais.

Assim, ela vislumbrou uma maneira de trazer a experiência do médico para seus alunos.

"Como ministro aulas de neurofisiologia no curso de medicina, na qual são abordados o funcionamento do sistema nervoso, bem como as disfunções neurológicas como a ELA, imaginei que com a experiência do doutor Vanderlei, enquanto médico e sua vivência como paciente vítima dessa doença, seria muito oportuno e produtivo incorporá-lo nas discussões de casos clínicos", informou.

A professora afirmou ter tido o respaldo dos diretores do curso e disse que a interação entre os alunos e Lima é um "exemplo a ser seguido".

"Ele trouxe a riqueza das suas experiências profissionais, argumentando, apimentando e desafiando os acadêmicos a buscarem respostas muitas vezes não encontradas em livros ou artigos. Os alunos ficaram mais interessados, curiosos e motivados no saber ao lidar com um caso real de uma doença debilitante como a ELA através de uma nova tecnologia de comunicação", contou.

Carla Malguti confidenciou que há planos de utilizar o conhecimento de Lima nos cursos de fisioterapia e psicologia.

"A história do doutor Vanderlei mostra como pessoas limitadas por aspectos físicos podem romper fronteiras e se manterem produtivas, pois além de poderem contribuir com a sociedade, podem também manter parte da satisfação com a vida ao se sentirem úteis", salientou.

Aceitação
"Minha história talvez seja diferente da maioria dos pacientes, pelo fato de ser médico, eu mesmo fiz o diagnóstico clínico, e, após a confirmação, preparei minha vida e minha família para tudo que iria enfrentar. Nessa situação é fundamental a aceitação", disse.

Escritor
Recentemente, Vanderlei escreveu um livro, no qual aborda a doença, e se prepara para a confecção de outro.

"Na verdade, o que deu origem ao livro EU E ELAS, foram as várias conversas pelas redes sociais, onde percebi que esperavam de mim um médico de almas. Assim pude servir e ser útil, minha verdadeira vocação, escrevendo crônicas", avaliou.

O título faz referência a sua experiência com a medicina, a música e a doença. O próximo livro, segundo ele, terá o título de "O Médico de Pijamas e suas Estórias". Com informações do UOL

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