Em janeiro de 2011, o ministro Gilberto Carvalho expôs uma ideia que a maioria dos petistas conversava em voz baixa. À época, mais de dois anos antes dos protestos de junho de 2013, Dilma Rousseff se esbaldava em índices altos de aprovação. Tinha taxa de ótimo/bom entre os eleitores de 47%. Atingiria seis meses depois 65%. Mas conservava à sua sombra um fantasma. Foi este que Carvalho açodou em sua entrevista quando analisava o governo Dilma.
”É evidente que, se não der certo, temos um curinga. Estou dizendo para a oposição: calma. Não se agitem demais. Temos uma carga pesada. Não brinca muito que a gente traz. É ter o Pelé no banco de reservas”.
Na semana em que Pelé pisou na bola ao dizer que o goleiro Aranha errou na forma que reagiu a insultos racistas, encerra-se a chance de Lula entrar no jogo eleitoral de 2014. Uma coisa nada tem a ver com a outra, exceto se estiver em análise a capacidade de mancadas e dribles de cada um.
Termina nesta segunda, dia 15 de setembro, o coro do “Volta, Lula”, entoado por grupos específicos de lideranças petistas, quase todos com residência em São Paulo e que perderam acesso ao gabinete presidencial com a passagem de bastão para Dilma.
A instrução número 61 do TSE prevê que é facultado ao partido político ou à coligação substituir candidato que tiver seu registro indeferido, inclusive por inelegibilidade, cancelado, ou cassado, ou, ainda, que renunciar ou falecer após o termo final do prazo do registro. Nas eleições passadas, era permitida a troca até a véspera da eleição.
Beira o folclore, mas ocorreram casos de prefeitos declarados inelegíveis que faziam campanha até a véspera, quando eram substituídos pelos filhos como candidatos, driblando assim as restrições legais ao seu nome e dando a vitória a quem não havia feito sequer um discurso na campanha.
Nesta eleição, o TSE estabeleceu o dia 15 de setembro (20 dias antes do pleito) como data-limite para substituição. Assim pode haver tempo, por exemplo, para a troca do nome e da foto do candidato recém-alistado na urna eletrônica. No passado, permaneciam o nome e a foto do que renunciou. O eleitor pensava que votava em um candidato, mas elegia outro. Às vezes as trocas de candidatura eram feitas em silenciosas madrugadas para ludibriar o eleitor.
Na última pesquisa que o nome de Lula foi incluído, ele liderava com 45%, nove pontos a mais do que Dilma atinge hoje. Tinha chance de ganhar no primeiro turno. O que significa o fim do coro “Volta, Lula”?
É o fim de uma era? Em 2018, Lula chegaria ao pleito com 73 anos, um ano a menos do que a idade com que Tancredo Neves foi eleito pelo Colégio Eleitoral em 1985 e a mesma idade em que Ulysses Guimarães lançou-se na frustrada empreitada à Presidência em 1989. Quem conhece Lula sabe que dificilmente ele assumiria claramente sua aposentadoria como candidato. A política ele já disse que não largaria jamais.
No caso de derrota de Dilma, será fortemente retomado o coro de “Volta, Lula” em 2018. Qualquer que seja o resultado, o maior líder petista deveria empenhar-se em valorizar novas lideranças, novas ideias e novas práticas. Forjar um novo candidato. A bem do partido e da política brasileira. Pelé teve duas festas de despedida no futebol. Resta saber quantas Lula reservará para si na política. Do Yahoo - Por Plínio Fraga | Plínio Fraga
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