Hanrrikson de Andrade/Do UOL, no Rio/Pablo Jacob/ Agencia O Globo
O coronel Alexandre Fontenelle Ribeiro (ao centro), o terceiro homem na hierarquia da Polícia Militar, é uma das 20 pessoas que foram presas
A quadrilha liderada por policiais militares do alto escalão do Batalhão de Bangu (14º BPM), bairro da zona oeste do Rio de Janeiro, é acusada de cobrar propina "até para uma simples entrega de geladeira", afirmou nesta segunda-feira (15) o promotor do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), Cláudio Calo. Até o momento, 22 PMs foram presos por envolvimento com o grupo criminoso.
Calo afirmou que a ação da quadrilha indica a existência de uma "corrupção institucionalizada" na Polícia Militar, já que envolve todo o Estado-Maior do 14º Batalhão. O ex-comandante do batalhão e atual chefe do COE (Comando de Operações Especiais) Alexandre Fontenelle Ribeiro, terceiro homem na hierarquia da corporação, é acusado de ser o líder do grupo. Ele foi capturado em sua residência nesta manhã.
De acordo com a investigação, os policiais cobravam taxas para facilitar ou não reprimir diversos tipos de serviço, sendo a maioria associada ao transporte de passageiros e de carga. Para liberar um mototaxista sem carteira de habilitação, por exemplo, os PMs exigiam pequenas quantias. Já para liberar entregas de eletrodomésticos, móveis, entre outros produtos, a propina podia chegar até a R$ 2.000.
Calo informou ainda que o total do faturamento dos criminosos ainda está sendo calculado. Durante a operação, os agentes apreenderam quantias de R$ 267 mil e R$ 33 mil, respectivamente, nas residências de dois dos policiais presos. Foram expedidos pela Justiça 25 mandados de prisão. Duas pessoas são consideradas foragidas.
O secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, também falou sobre a operação. "A gente trabalha externamente, mas internamente também. As coisas aqui não param. A gente tem mais investigações dessa natureza para serem feitas", afirmou Beltrame. "Temos mais investigações de milícias, de UPP, de tráfico. Não há um calendário de investigações. As investigações ficam prontas e elas acontecem."
Calo explicou que a quadrilha se organizava como uma empresa de sociedade anônima. Cada policial tinha uma atribuição definida previamente: desde as equipes de policiamento ostensivo (que faziam a arrecadação nas ruas) até oficiais do comando do batalhão, responsáveis pela distribuição do dinheiro. "Eles funcionavam como uma verdadeira holding do crime", definiu o promotor.
A investigação de contra-inteligência durou cerca de 12 meses, e todos os crimes ocorreram entre o segundo semestre de 2012 e o fim do ano passado. Além do material apreendido hoje (dinheiro, documentos, extratos bancários, entre outros), o MP apresentará à Justiça elementos probatórios como interceptações telefônicas, escutas e depoimentos de vítimas. O material não foi divulgado para não comprometer o andamento do processo.
Os denunciados responderão pelos crimes de formação de quadrilha armada e concussão. Além disso, o MP solicitará à Corregedoria da Polícia Militar a abertura de uma sindicância para verificar a evolução patrimonial e a movimentação financeira dos réus. Se forem constatadas irregularidades, o Gaeco deve imputar aos acusados o crime de lavagem de dinheiro.
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